sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Arte verdadeira.

Arte verdadeira.

O tema.
Aqui cito três depoimentos de músicos que me merecem a maior consideração, eles comentam pontos que nos ajudam a diferenciar o joio do trigo em relação a valores que nos aproximem a reconhecer o que seria uma arte apropriada.
As questões.
Existiriam categorias objetivas que nos permitissem diferenciar o que é arte do que seria um mero artifício? Tem por trás dos usos da indústria cultural mecanismos que banalizam a obra de arte e corrompem nossa compreensão?
Existiriam modelos ou modas que nos iludem e nos induzem a aceitar determinadas manifestações como padrões estéticos válidos?  Junto com a obra artística se introduzem valores de forma subliminal?

Os Depoimentos.

Primeiro.

Egberto Gismonti comenta em uma reportagem como a indústria fonográfica desvalorizou a música folclórica e ainda se utiliza da arte verdadeira para usá-la como fundo de seus produtos de massas.
Começa mencionando que antigamente só existia a música folclórica, depois a partir dela, a música de concerto até que surge a indústria fonográfica nos EE. UU; a partir disso se cria uma jerarquia na qual o folclore fica desacreditado.
Comenta como a indústria se apropria da música e a banaliza; cita o exemplo da música “a sagração da primavera” de Stravinsky que ganhou fama não pela obra e sim,  sua notoriedade chegou depois que o registro dela foi utilizado como música de fundo nas cenas de natação nos filmes da atriz Esther Williams em Hollywood.
Critica que uma música de fundamento popular que se relaciona com algo histórico e mítico seja utilizada como fundo de uma cena completamente fora de contexto.
Estima o passado como uma referencia para se relacionar com o futuro ao mesmo tempo que cobra a valorização do conceito de individuação, conceito esquecido no meio de uma estética mundana que pelo contrario exerce o efeito de massificar a população e torná-la mais impessoal.
Link da entrevista
Segundo.

Luis Alberto Spinetta em outra reportagem fala sobre a lavagem cerebral (a idiotizarão) da sociedade a partir do convívio com a massificação da arte.
Critica músicas banais e alerta para o efeito pernicioso que resulta a exposição continua com estes fenômenos.

Terceiro.

Frank Zappa em uma entrevista critica a sociedade americana por apenas criar “marcas” (Coca-Cola/Levis/hambúrguer), por exercer uma política externa belicosa e agressiva (participando de
guerras e ocupações) e por não possuir uma arte ancestral (sua arte só tem 150 anos).

O tema.
Estes três grandes músicos estão falando de algo em comum?
Egberto Gismonti levanta quatro questões, a da massificação, a utilização da arte fora do seu contexto (a dessacralização), o respeito pelo passado e a valorização do fundamento popular na arte.  Luis Alberto Spinetta alerta para a alienação e Frank Zappa critica a postura americana como um todo.
O que é arte.

Existe uma arte milenar que se desdobra e se atualiza uma arte que produz mitos e poesia; esta arte tem uma tradição e se manifesta individualmente a partir das escolhas pessoais e da memória de cada artista.
Esta arte colocada na sua real importância; isto é como a soma de escolhas e de lembranças de todo um percurso, se revigora e se coloca como referencia.
Ao contrario fora estes critérios temos hoje a valorização de uma arte sem enraizamento ou a utilização de uma arte verdadeira colocada ao serviço de um contexto completamente supérfluo.
A arte transcendente ainda sobrevive, ela assiste atônita ao crescimento de uma padronização no cinema, na literatura, na música e nas imagens para o consumo rápido sem um mínimo de tradição ou genealogia.
Vamos introduzir mais dois assuntos que turbam o real entendimento do que “é” a arte.  O problema do novo, do instantâneo e dos valores que se introduzem com as estéticas artísticas.

A questão da valorização do novo.


Aparece aqui então a questão do novo como outro elemento perturbador.  Como desdobramento do conceito de perda do olhar no decorrido encontramos na valorização do novo uma variante da dispersão.  
Uma nova moda acontece na Europa que pode exemplificar estes comportamentos: Vinho Azul....isso mesmo...o discurso diz “Chega do tinto, branco ou rose. O Azul é jovem, divertido e inovador por natureza”.Como se alguém falasse esqueçam os vinhos tradicionais, esqueçam os vinhedos, o conhecimento do cultivo agora o que vale é mudar a cor.
Por trás destas modas o que nos vendem é a ideia da inovação como sinônimo de valor; o mesmo discurso serve para divulgar estilos rítmicos, pinturas, arte conceitual, padrões sexuais, familiares, etc.
Este opinião que normatiza comportamentos atrás de uma aparência de liberdade na realidade serve para introduzir o cambio como sinônimo de novidade, ou pura e simplesmente como superação; detrás dessa ideia é que se introduzem músicas como o rap, a cumbia, o funk carioca, o punk, o hip-hop e a literatura para colorir, por exemplo.
Este embuste é o mesmo que o que avalia que a música no século XVIII hoje foi ultrapassada, que a poesia de Homero é senil e em conseqüência inferior a de qualquer poeta do século XXI  ou que o cinema mudo japonês, alemão ou americano não fossem mais que rascunhos do que hoje assistimos.

O passado e o presente.

O que ocorre não é bem assim, na realidade, tem que ficar claro que não existe essa evolução na arte e que se assistimos empobrecimento de uma arte maior é por que as mudanças que se fantasiam de genuínas desconhecem qualquer procedência.
Por acaso ainda superamos o que aconteceu no em 1958 com Miles Davis no jazz, Astor Piazzolla no tango e Tom Jobim com a bossa nova?
Jorge Luis Borges no prólogo da edição argentina  de parte da obra de teatro de Eugene O’Neill  comenta que: “ O’Neill  compreendeu que o melhor instrumento que lhe foi dado aos homens para inovar e renovar é a tradição, não para  servilmente repetir-la ou copiá-la  mas para que  ela seja ramificada e enriquecida”.

Final. 


Por trás das nossas escolhas e do nosso olhar do mundo existem forças subliminares que se introduzem de forma invisível.
Se ficarmos atentos ao que ocorre e permanecermos em alerta para não cair na armadilha planejada para nosso olhar nos poderemos deter para observar como é que constitui nosso apreciar do mundo artístico...isto seguramente poderá  tornar nosso contemplação mais abrangente.


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