Arte
verdadeira.
O tema.
Aqui cito três depoimentos de músicos que me merecem a maior
consideração, eles comentam pontos que nos ajudam a diferenciar o joio do trigo
em relação a valores que nos aproximem a reconhecer o que seria uma arte
apropriada.
As questões.
Existiriam categorias objetivas que nos permitissem diferenciar
o que é arte do que seria um mero artifício? Tem por trás dos usos da indústria
cultural mecanismos que banalizam a obra de arte e corrompem nossa compreensão?
Existiriam modelos ou modas que nos iludem e nos induzem a
aceitar determinadas manifestações como padrões estéticos válidos? Junto com a obra artística se introduzem valores
de forma subliminal?
Os Depoimentos.
Primeiro.
Egberto Gismonti comenta em uma reportagem como a indústria fonográfica
desvalorizou a música folclórica e ainda se utiliza da arte verdadeira para
usá-la como fundo de seus produtos de massas.
Começa
mencionando que antigamente só existia a música folclórica, depois a partir
dela, a música de concerto até que surge a indústria fonográfica nos EE. UU; a
partir disso se cria uma jerarquia na qual o folclore fica desacreditado.
Comenta como a indústria se apropria da música e a banaliza;
cita o exemplo da música “a sagração da primavera” de Stravinsky que ganhou
fama não pela obra e sim, sua
notoriedade chegou depois que o registro dela foi utilizado como música de
fundo nas cenas de natação nos filmes da atriz Esther Williams em Hollywood.
Critica
que uma música de fundamento popular que se relaciona com algo histórico e
mítico seja utilizada como fundo de uma cena completamente fora de contexto.
Estima
o passado como uma referencia para se relacionar com o futuro ao mesmo tempo
que cobra a valorização do conceito de individuação, conceito esquecido no meio
de uma estética mundana que pelo contrario exerce o efeito de massificar a
população e torná-la mais impessoal.
Link
da entrevista
Segundo.
Luis
Alberto Spinetta em outra reportagem fala sobre a lavagem cerebral (a
idiotizarão) da sociedade a partir do convívio com a massificação da arte.
Critica
músicas banais e alerta para o efeito pernicioso que resulta a exposição
continua com estes fenômenos.
Terceiro.
Frank
Zappa em uma entrevista critica a sociedade americana por apenas criar “marcas”
(Coca-Cola/Levis/hambúrguer), por exercer uma política externa belicosa e agressiva
(participando de
guerras e ocupações) e por não possuir uma arte ancestral (sua
arte só tem 150 anos).
O tema.
Estes
três grandes músicos estão falando de algo em comum?
Egberto
Gismonti levanta quatro questões, a da massificação, a utilização da arte fora
do seu contexto (a dessacralização), o respeito pelo passado e a valorização do
fundamento popular na arte. Luis Alberto
Spinetta alerta para a alienação e Frank Zappa critica a postura americana como
um todo.
O que é arte.
Existe
uma arte milenar que se desdobra e se atualiza uma arte que produz mitos e
poesia; esta arte tem uma tradição e se manifesta individualmente a partir das
escolhas pessoais e da memória de cada artista.
Esta
arte colocada na sua real importância; isto é como a soma de escolhas e de
lembranças de todo um percurso, se revigora e se coloca como referencia.
Ao
contrario fora estes critérios temos hoje a valorização de uma arte sem
enraizamento ou a utilização de uma arte verdadeira colocada ao serviço de um
contexto completamente supérfluo.
A
arte transcendente ainda sobrevive, ela assiste atônita ao crescimento de uma
padronização no cinema, na literatura, na música e nas imagens para o consumo
rápido sem um mínimo de tradição ou genealogia.
Vamos
introduzir mais dois assuntos que turbam o real entendimento do que “é” a arte. O problema do novo, do instantâneo e dos
valores que se introduzem com as estéticas artísticas.
A questão da valorização do
novo.
Aparece
aqui então a questão do novo como outro elemento perturbador. Como desdobramento do conceito de perda do
olhar no decorrido encontramos na valorização do novo uma variante da
dispersão.
Uma
nova moda acontece na Europa que pode exemplificar estes comportamentos: Vinho
Azul....isso mesmo...o discurso diz “Chega do tinto, branco ou rose. O
Azul é jovem, divertido e inovador por natureza”.Como se alguém falasse
esqueçam os vinhos tradicionais, esqueçam os vinhedos, o conhecimento do
cultivo agora o que vale é mudar a cor.
Por
trás destas modas o que nos vendem é a ideia da inovação como sinônimo de valor;
o mesmo discurso serve para divulgar estilos rítmicos, pinturas, arte conceitual,
padrões sexuais, familiares, etc.
Este
opinião que normatiza comportamentos atrás de uma aparência de liberdade na
realidade serve para introduzir o cambio como sinônimo de novidade, ou pura e
simplesmente como superação; detrás dessa ideia é que se introduzem músicas
como o rap, a cumbia, o funk carioca, o punk, o hip-hop e a literatura para
colorir, por exemplo.
Este
embuste é o mesmo que o que avalia que a música no século XVIII hoje foi ultrapassada,
que a poesia de Homero é senil e em conseqüência inferior a de qualquer poeta
do século XXI ou que o cinema mudo
japonês, alemão ou americano não fossem mais que rascunhos do que hoje
assistimos.
O passado e o presente.
O
que ocorre não é bem assim, na realidade, tem que ficar claro que não existe
essa evolução na arte e que se assistimos empobrecimento de uma arte maior é
por que as mudanças que se fantasiam de genuínas desconhecem qualquer
procedência.
Por acaso ainda superamos o que aconteceu no em 1958 com Miles Davis no jazz, Astor Piazzolla no tango e Tom Jobim com a bossa nova?
Por acaso ainda superamos o que aconteceu no em 1958 com Miles Davis no jazz, Astor Piazzolla no tango e Tom Jobim com a bossa nova?
Jorge
Luis Borges no prólogo da edição argentina de parte da obra de teatro de
Eugene O’Neill comenta que: “
O’Neill compreendeu que o melhor instrumento que lhe foi dado aos homens
para inovar e renovar é a tradição, não para servilmente repetir-la ou
copiá-la mas para que ela seja ramificada e enriquecida”.
Final.
Final.
Por
trás das nossas escolhas e do nosso olhar do mundo existem forças subliminares
que se introduzem de forma invisível.
Se
ficarmos atentos ao que ocorre e permanecermos em alerta para não cair na
armadilha planejada para nosso olhar nos poderemos deter para observar como é que constitui nosso apreciar do mundo artístico...isto seguramente poderá tornar nosso
contemplação mais abrangente.
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