sábado, 22 de agosto de 2015

Jazz em Cena no Rio de Janeiro


O Jazz no Rio  neste ano de 2015 esta vivo, podemos afirmar que existem algumas casas onde acontecem eventos, muitos bons músicos,  uma historia e  uma multiplicidade de propostas dentro disso que chamamos de jazz.
No Rio nos anos 90 teve a Rio Jazz clube, o Jazzmania , o People , o Mistura fina, casas que abrigaram projetos de jazz e que já acabaram, festivais como o Free Jazz que aconteceram no Hotel nacional e eventos ao ar livre que aconteciam os domingos a tarde no parque das Catacumbas e no Arpoador...depois  tivemos a Moderm Sund, o Cais de Oriente, Esch Café no Leblon e no Centro, o Santo Scenarium na Lapa ...
Hoje tem Festivais de Jazz em Rio das Ostras, Festivais organizados por empresas ligadas a cartões de créditos ou automóveis  como  a American Express Jazz Festival que troce a Wilton Marsalis ao Rio, o Festival Mimo também vai trazer este ano atrações de jazz ao Rio e inclusive alguns nomes como Keith Jarret são convidados de teatros como o próprio Municipal. A rua do Lavradio tem um festival de jazz de New Orleans no carnaval e agora, dias atrás, tivemos o Rio Jazz Festival acontecendo.

Lugares para ouvir.

Vou listar alguns lugares onde o que chamamos Jazz isto é a música instrumental que inclui improviso pode ser ouvida.
 1)       Triboz ( Lapa).
 2)      Arlequim (Paço Imperial).
 3)      Jazz no Ouvidor  (Centro)
 4)      Cais de Oriente (Centro)
 5)      Vizta. (Leblron)
 6)      Beco das Garrafas (Copacabana)
 7)      Hotel Novo mundo (Flamengo)
 8)      Jazz no Morro ( Cantagalo)
 9)      The Maze (Catete)
 10)    Quioskes da Lagoa como o Arabe
 11)   Al-Farabi (Centro)
 12)    Semente (Lapa)
 13)   Brasserie. (Centro)
 14)   Pedra do Sal (Gamboa)
 15)   Otto (Tijuca)
 16)    Carodosão (Laranjeiras)
 17)   Moviola livraria (Laranjeiras)
 18)   Museu do Ingá (cinema jazz)
 19)   Bar Italia ( Niteroi).
 20)   Cariocando  (Catete)
 21)   Saraus fechados, mas que acontecem regularmente como o numa casa particular na Gavea.
 22)   La Carmelita ( Centro)
 23)   Godofredo (Botafogo).
 24)   Hotel Pestana (Lapa)
 25)   Cantinho da Batata (Niteroi).
 26)   Marco (Santa Teresa).
 27)   Zacks (Botafogo)
 28)   Jazz no AABB (Tijuca)
 29)   Terças com Jazz na Igreja Bete-Javet de Queimados
 30)   Leviano Bar (Lapa)
 31)   Armazém do Jazz (Realengo)
 32)   Intrumental Nueva Vida (Botafogo)
 33)    Armazém Cultural São Joaquim (Santa Teresa)
 34)   Inferninho Chique (Lapa)
35) Olho da Rua (Botafogo)
36) Armazém 102 (Botafogo)
Os Estilos.
As alternativas são desde um som mais experimental até um som comportado, sempre com o ênfases no improviso e no repertorio  de standars brasileiros (bossa, samba-jazz)  ou americanos (baladas, be-bop, funk jazz).
No ano de 2010 aconteceu no Rio um fenômeno importante, bandas como Nova Lapa e quinteto Nuclear chegaram a reunir mais de 500 pessoas por noite nas ruas da Lapa,hoje essa geração nova como Pablo Arruda, Guga Pellicciotti e outros músicos  formaram outros novos projetos como o “Afro Jazz” e se multiplicam oferecendo novas tendências do estilo .
Outra alternativa é o som autoral de grupos de música instrumental que misturam música brasileira com improvisos e que se apresentam em casas como o Semente , o Arthur Dutra seria um dos seus expoentes.
Temos outros grupos que cultuam o som dos standars como o que faz o pianista Osmar Milito no hotel Novo mundo toda semana .
Mais uma possibilidade interessante  seria a que realiza o músico Roberto Rutigliano com seus tributos a grandes nomes do jazz, shows dedicados a Miles Davis,Coltrane, Charlie Parker e Cortazar, Billie Holiday que acontecem periodicamente no Arlequim no Paço imperial.
Temos grupos de sopros como Saxophonia do Idriss Boudrioua e o grupo Inventos do Vitor Gonçalves.
Existe também a alternativa do Samba-Jazz no tradicional Beco das Garrafas e no Braserrie no centro com artistas como Kiko Continentino o nas calçadas de Ipanema com o grupo de bossa nova “olho da rua” de Paulo Rego.
Temos o chamado Jazz cigano da tradição de Django Reinhardt com o guitarrista YuVal ben Ilor.

Temos também  grupos que cultuam um diálogo com a música de câmara como o duo de Gilson Peranzzetta e Mauro Senise, adeptos de formações diferentes  como a de órgão, guitarra e bateria com a pianista Vanessa Rodrigues, formações de fanfarras  como a que participa Pedro Aune a Orleans Original Jazz , misturados com estilos brasileiros como o choro com grupos como “Tira  Poeira” , "Tira o dedo do pudim" com Antonio Guerreiro ou o próprio Hamilton de Holanda;, podemos encontrar também outros desdobramentos, puxando mais para estilos dançantes do jazz como o que pratica o guitarrista americano Mark Lambert, também temos o pessoal do latin jazz com músicos como Adrian Barbet ou Altair Martins,.
temos até o Tango Jazz com o grupo Tango Negro.
Existe também a alternativa de escutar o jazz misturado com a temática ancestral afro-brasileira com o saxofonista Glaucus Linx.

A trajetória.

Existiram músicos de jazz brasileiros como o próprio Pixinguinha que curtia o ragtime e ao Luis Amstrong, depois orquestras como a Tabajara que incluíram no seu repertorio clássicos americanos, músicos como K-Chimbinho, Paulo Moura, Edison Machado, Claudio Caribé , Barrosinho, Nico Asumpção , Jose Roberto Beltrami, Marcio Montarroyos , Ion Muniz ou Vittor Assis Brasil que realmente marcaram época na historia do Jazz brasileiro.
A galera do Samba-Jazz como o grupo Os gatos, Rio 65 trio , Tamba trio foram também fundamentais para o som instrumental na metade da década do 60.
Nos anos 70 toda uma geração de músicos emigrou para estudar nos EE.UU e em 1978 se realiza o primeiro festival internacional de Jazz em São Paulo com a presença de esto músicos que voltavam da Berklee misturando jazz com o sotaque brasileiro.

Os gringos. 
Podemos destacar também a importância da presença de alguns estrangeiros na formação e no desenvolvimento do jazz nestas latitudes : Dario Galante, Idriss Boudrioua, Mark Lambert, Adrian Barbet , Roberto Rutigliano, Andy Connell, Brunce Henry, Pablo Lapidusas, Torcuato Mariano, Victor Biglione,Cliff Korman, Leonardo Amoedo São algum deles .
Gostaria também de destacar a importância que teve a presencia de alguns músicos estrangeiros  consagrados  na historia e no registro de discos dedicados ao jazz brasileiro: Kenny Barron por exemplo gravou discos lindos dedicados ao Samba Jazz, o próprio Cannoball Aderley e o Gerry Mulligan frequentaram o Brasil na época da bossa nova...Toots Thielemans gravou discos lindos dedicados a um diálogo entre o jazz e a música brasileira e o laureado Coleman Hawkins também se rendeu aos sons cariocas gravando Desafnado de Tom Jobim.

 .

Os protagonistas atuais.

Os músicos dedicados ao estilo são de alta qualidade técnica e todos tem muita capacidade de improviso que é o que realmente caracteriza o estilo, entre os que estão na ativa  musical podemos citar: Sergio Barrozo , Bruno Aguilar, Luiz Alves, Nema Antunes,Jorge Elder,Alex Rocha, Paulo Russo , Ronaldo Diamante, Adrian Barbet, Jeferson Lescovich, Bruno Migliari ,Pedro Aune, Alex Malheiros, Edson Lobo,Augusto Matoso, Tony Botelho, Xandy Rocha, Guto Wirtti, Adriano Gifoni, Ed Menezes, Nei Conceição, Jimmy Santa Cruz, Rodrigo Vila no baixo e contrabaixo , Kiko Continentino, Adriano Souza, Claudio Andrade,Luiz Otavio, João Braga, Eduardo Farias, Tomás Improta, Gilson Peranzzetta,  Itamar Assiere, Gijs Andriessen, Rodrigo Zaidan, Natan Gomes, Hamleto Stamato, Dudu Viana, Flavio Paiva, Marbio Ciribelli,  Fernando Morais, Adaury Mothé, Leandro Freixou,  Rafael Vernet, Vitor Gonçalves,Antonio
Adolfo, Wan Chagas, Cliff Korman,Eumir Deodato, Pedro Milman, Marcos Ariel ,Marco Tommaso, Dom Salvador, Jeff Garden, Zezo Olimpo, Osmar Milito, Leo Freitas no piano, Robertinho Silva, Axu, D;Stefano, Roberto Rutigliano, Cassius Theperson Rafael Barata, Xande Figueredo , Paulo Diniz, Vitor Beltrami, Guga Pelliciottii, Andre Tandeta, João Bittencurt, Lucio Vieira, Jurin Moreira, Paulinho Braga, Erivelton Silva, Ivan Conti “Mamão”, Wilson Meirelles, Mac Willian Caetano, Tuti Moreno, Lourenço Dias de Vasconcellos, Pascoal Meirelles,  João Cortez, Renato Calmon, Kleberson Caetano, Luisinho Sobral,Kiko Freitas, Fernando Pinto Pereira Emile Saubole, João Viana, Kim Pereira na bateria, Marcelo Martins, Fernando Trocado, Altair Martins, José Arimateia, José Bigorna, Guta Meneses, Paulo Levi, Josué Lopez, Leo Gandelman, Eduardo Neves, Jesse Sadoc, Idriss Boudrioua,Afonso Claudio,  Ricardo Pontes,Thiago Ferté, Mauro Senise , Claudio Roditi, Daniel Garcia, Gustavo Contreras, Widor Santiago, Paulinho trompete, Diogo Gomes Serginho trombone, Glaucus Linx , Zeca Maretzky ,Mike Ryan, Yuri Villar, Alexandre Caldi,Carlos Malta ,Gabriel Grossi, Mauricio Einhorn, Vander Nacimento, Julinho Merlino nos sopros, Alexandre Carvalho, Leonardo Amoedo, Marcos Amorin, Victor Biglione, Bernardo Bosisio, João Castilho, Dino Rangel, Thiago Trajano, Nelson Faria, John Cassio e YuVal ben Ilor,Torcuato Mariano, Robertinho de Paula, Ricardo Silveira , Gabriel Impronta, Luiz Poter, Toninho Horta nas guitarras, Chico Chagas no acordeom.
Cantoras como Alma Thomas, Rowena Jameson, Folakemi. Leila Maria, Indiana Nomma, Andrea Dutra ...
Big Band como a Baixada Jazz Band, UFRJAZZ e a Orquestra Atlântica, a orquestra Revelia.
Importante destacar a figura de "anjos da guarda":  produtores , amigos da causa como Nego Bom  do Jazz, Mauro Wermelinger que milita por uma música instrumental fora da estética do "happy hour", donos de lojas de discos que acabam se tornando  radiadores da cultura, pessoas como Marcio Pinheiro que ajudaram a desenvolvem este movimento, radialistas como Jota Carlos e como Antonio Jorge que durante anos levou o programa de jazz na radio Catedral ( hoje comandado por Sidney Ferreira) , Reinaldo Figueiredo humorista , contrabaixista da Companhia Estadual de Jazz e radialista ao mesmo tempo - guerreiros genuínos que apoiam a cultura.

Jam Session.
um estilo tem seus músicos, sua instrumentação e também uma serie de standars que debem chegar a uns 120 que todos os músicos conhecem e que tocam habitualmente, estas músicas normalmente estão escritas no Real Book que é uma especie de catálogo dos temas que se sugerem em estas reuniões informais.
Músicas  como Estela , My funni Valentine, Cantalupe Island de Herbie Hancock, de Wayne Shorter - Footprints -, Amazonas de João Donato,Bananeira de Moacyr Santos, Solar de Miles, Bossas novas  como Samba de uma nota só ou composições de Jobim como Chovendo na Roseira, músicas do Hermeto como o Ovo fazem parte deste cardápio musical.

O novos.
Existem garotos que hoje estão com pouco mais de 20 anos mas que já convivem com a música desde pequenos e que tem uma performance de destaque, podemos falar do pianista Eduardo Farias, dos bateristas Lourenço Dias Vasconcellos (também compositor), e Antonio Neves (também trombonista) ,dos baixistas Miguel Dias e Pablo Arruda   e do guitarrista e produtor Luiz Potter apenas para falar de alguns deles.


Grupos.

Podemos falar de grupos como Azimuyh, de Cama de Gato como alguns dos mais conhecidos, Hermeto Pascoal poderia ser considerado um músico com uma linguagem relacionada com o jazz que realizou o projeto de grupo por muitos anos ; temos também grupos importantes e menos conhecidos como "Balya" do Xande Figueredo, Rafael Vernet, Ed Menezes e Eduardo Neves e o Xekerê com varias formações e "Sem Batuta"do Alexandre Caldi,Pindorama foi outro grupo autoral do Flavio Paiva, Ronaldo Diamante, hoje temos ainda o grupo Bamboo.  o Agua Viva  ou o grupo do pessoal mais jovem o Taranta como exemplo de projetos com uma agrupação fixa.

Final.

O jazz é um estilo que prima pela criatividade e que possibilita que o ouvinte presencie ao vivo performances de improvisos que sempre trazem algo de novo e de estimulante para seus ouvidos.
Cortazar afirmava que o Jazz seria uma espécie de música folclórica universal  algo que faz você se sentir em casa, que nos acolhe com uma sonoridade familiar quando você esta em qualquer pais como se fosse uma música que nos acompanhou sempre a todos lados.






quinta-feira, 6 de agosto de 2015

O mito do Tambor

O Tambor sacrílego e o Tambor sagrado.

Como dizia Nietzsche no livro "Assim Falava Zaratustra": "Eu só poderia crer em um Deus que soubesse dançar".

Introdução.

Existem muitos julgamentos e diferentes apreciações em relação ao tambor (com este nome na realidade estou incluindo a percussão na sua totalidade: bateria, tumbadoras, atabaques, etc). Olha-se para ele apenas como algo que produz um som estridente, se o associa ao barulho, ao ruído; mas também existe quem o aprecie pelo viés da pluralidade tímbrica dos seus múltiplos sons e o veja associado ao ritmo, ao lado cadencioso e lúdico da base musical.


Para os músicos, os tambores representam uma alternativa necessária na instrumentação de alguns estilos, podemos citar o caso do Jazz-fusion, da música latina, brasileira ou uruguaia, por exemplo, onde normalmente se usam vários percussionistas e bateria numa mesma formação instrumental ou, como acontece na música clássica e na contemporânea, onde se incorporam vários percussionistas numa peça para engrandecer o colorido e para introduzir diferentes combinações tímbricas das que encontramos nas instrumentações dos grupos de câmera habituais.
Para alguns o tambor é coisa de amador, um instrumento menor ou secundário, como ele não toca em alturas determinadas e como normalmente não se escrevem partitura para ele, se o pensa em um papel coadjuvante. – disso dá exemplo o fato de na “Ordem dos músicos do Brasil”, para se avaliar quanto à remuneração econômica, existe uma tabela para músicos e outra para ritmistas.
 Estas tendências geram avaliações, e do ponto de vista de um julgamento simbólico, olha-se o tambor, por um lado,  como algo  sacrílego ou  maldito e  em outras  situações , ao contrario, como algo ligado ao sagrado ancestral,  como  um som abençoado  .
Os mitos.
A história vem de muito longe, assim como na tradição grega se conta que o deus Hermes  furtou de seu irmão Apolo cinqüenta vacas para criar a lira e criar todos os sons ,como diz Chico Buaque na letra da música “Choro bandido”,  dentro da tradição babilônica temos um mito para contar a criação do tambor.
Trata-se do primeiro romance da historia, onde se conta o relato chamado da “Epopéia de Gilgamesh” (1), são poemas sumerianos (da antiga mesopotâmia) que narram os feitos do famoso Gilgamesh que viveu na primeira metade do terceiro milênio antes de Cristo.
(
Essa obra narra como da primeira arvore  que existiu na terra se construiu um tambor e uma baqueta  que receberam o nome de Pukku e Mukku.
“Dos galhos, da coroa da árvore de Hulupu, Iranna fez um tambor para Gilgamesh “
O herói de Uruk”.

No terceiro texto, o tambor e a baqueta, por alguma razão caem no abismo, chamado de inferno  (2), o Tambor sagrado e a baqueta sagrada  não podem ser resgatados por Enkidu  que mergulha para buscá-los. Ele não conseguiu resgatá-los e nem sair do inferno porque ninguém sai da terra dos mortos com vida mais o deus Enki pratica um buraco no chão e permite que a sombra do Eikidu conte para Gilgamesh a triste situação dos que ficaram embaixo. O tambor e a baqueta não foram resgatados.

A percussão nas culturas.

Compressão sagrada da percussão.

Depois de conhecer esta perspectiva  mítica do tambor podemos inferir alguns conceitos, primeiro o caráter sagrado dos instrumentos; no Candomblé (3) , por exemplo,  são consagrados, eles recebem uma benção e só podem ser tocados pelos Ogans (4). No Candomblé de Cuba, conhecido como Santeria, os instrumentos além de serem consagrados são feitos por encomenda e destinados a um único tocador daquele tambor.
Temos no Candomblé brasileiro uma instrumentação de percussão : o agogô, o xereré, e trés tambores (atabaques) que recebem o nome de rum, rumpi e o .
Dentro da mesma cultura em Cuba, este tambores tem outra forma, os tambores bata, também são três, recebem o nome de : o ijá , itótele e okónkolo.
Em esta tradição o tambor se comunica a partir dos músicos com a divindade, no caso com os Orixas , que representam as forças da natureza.
Falamos da compressão respeitosa que se tem da percussão na cultura na Grécia, na Pérsia antiga, na cultura africana; nas cultura orientais, no budismo inclusive, o som do sino é considerado  sagrado. O nome de estes sinos é  Bonshō (梵鐘 Sinos budistas), também conhecidos como tsurigane (釣り鐘  Sinos pendentes) ou ōgane (大鐘 Grandes sinos)são sinos de grande dimensão que se encontram nos templos budistas budistas no Japão, utilizados para chamar os monges para a oração, e para marcar períodos de tempo. 

Na Índia a instrumentação percussiva é muito ampla, temos as tablas, pakhawaj, dholak da família de instrumentos com pele, ainda existem cascaveles conhecidos como gunguru  e pequenos címbalos chamados de Crotal . 



Na Índia assim como no Japão o tambor era considerado um instrumento relacionado com a religião.
O Deus Lingo era considerado o primeiro músico e Ganesha o Deus do som.
Existem instrumentos de percussão encontrados em escavações que datam de 3000 Ac.
Existiram timbales conhecidos com o nome de dumdubhi  utilizados nas cerimônias religiosas para cantar aos deuses e na guerra como uma especie de talismã. (5)

Nas populações indígenas no Brasil embora exita uma diversidade que nos impede falar delas com um todo,  ainda assim podemos encontrar algumas similitudes que nos permitiriam afirmar que a maioria dos povos indígenas associa a música com o universo transcendente e mágico , isto tem seu origem nos mitos fundadores.
Um desses mitos fala que a música foi um presente do deuses, existiria uma música original que habita no mundo dos sonhos,  do mundo ancestral evocada pelos sacerdotes e que são socializadas em festividades grupais sendo um elemento fundamental na construção do que chamaríamos em ocidente de cultura.
O canto, a percussão fazem parte de esta experiencia sonora  que é predominantemente coletiva.


Compreensão profana da percussão.


Em oposição ao lado sagrado temos o lado sacrílego do tambor: o cristianismo considerou a partir de alguns parâmetros estéticos excludentes, que alguns choques harmônicos nas vozes dos corais e que os timbres que resultavam dos instrumentos de percussão seriam considerados indesejáveis.
A instrumentação percussiva referida na tradição na bíblia, no antigo testamento não menciona a palavra tambor mas usa a palavra pandeiro, a tradição cristã desde David privilegiou o canto coral (6),  a percussão se restringia a pandeiros e címbalos se considerando aos tambores mais relacionados com rituais pagãos, isto criou um estigma em torno a percussão e esta passou a ser associada com   algo pouco propicio para entrar nos lugares sagrados.
O que vemos na realidade  é que o lado rítmico, não só o do som, mas o lado ligado ao que poderia provocar um movimento, dança, algo lúdico também  foi banido se o associando ao lado pagão do fazer musical.

Outros desdobramentos que afetam a percussão.




Falamos do sagrado , profano, do lado rítmico associado ao tema, agora  vamos observar o que acontece pelo lado estritamente racional-musical , podemos constatar no dia a dia o preconceito que existe no imaginário social , no senso comum,  e inclusive em alguns músicos e ouvintes ao se referir a percussão como uma sonoridade menor, isto resultado de uma avaliação que esta associada com o menospreço que se tem com todo o ligado ao  fato de que a percussão não define alturas reconhecidas dentro do sistema tonal mas mais que nada por que a percussão esta associada ao lado intuitivo e irracional em oposição ao  saber "culto" ou acadêmico.

Demorou muito, por exemplo, para que seja incorporado no curriculum das academias o ensino de percussão, para sejam publicados métodos, transcrições para que o saber oral seja colocado na pauta.
A percussão ligada com a música de concerto sim mas o estudo da percussão popular e da bateria ainda não tem espaço para um estudo mais aprofundado a nível universitário em países como o Brasil.
Este desprezo envolve  também uma aversão com todo o associado com a cultura negra, decorrente inclusive de uma ideia de superioridade racial  ligada com o status social  e também , em este caso, com aquilo que remete ao sentimento e ao corporal. sempre inserido e latente no conceito do que significa percutir bater, tocar, 

Conclusão.

Temos que refletir que vivemos em uma cultura que esta  dividida entre duas forças, uma  que aceita e explora a musicalidade  da percussão com todas suas possibilidades, cores e conteúdos, que ainda o coloca no lugar do sagrado e em confronto temos um outro lado que nega este saber, que sobre valoriza a musica tonal e a "razão" , produzindo uma dicotomia binária fundado em uma polaridade simplória  que nega sem elaborar a multiplicidade de sons e de opções que nos oferece a música e a vida. 
Vivemos entre estas duas forças, fica aqui para um debate posterior minhas considerações sobre a relação da cultura com a percussão.


Notas

(1)     Fonte ‘Uma apresentação da epopéia de Gilgamesh”, Jose Trinidade Serra, fundação cultural do Estado de São Paulo – 1985.
(2)     Na Antiguidade, o inferno foi entendido a partir de sua semântica, como o plano inferior,  a terra dos mortos, e não no sentido  cristão como o lugar onde se pagam os pecados.
A segunda observação que podemos fazer é que o tambor e a baqueta ficaram no “mundo dos mortos”,  como conseqüência o som do tambor nos remete ao mundo subterrâneo, aquela imagem de repente nos serve como símbolo de uma sensação que produz a percussão e que nos  brinda sensações realmente profundas , ligadas, inclusive ao mundo da morte e dos mistérios da  vida, algo ancestral e sagrado que este poema de algum modo eternizou.
(3)    Estamos nos referindo à religião afro-brasileira.
(4)     Músicos do Candomblé
(5)  citado do catedrático James Blades, 
(6) Aqu uma citação do velho testamento onde se refere ao uso do pandeiro mais de 1700 anos AC.  "Aconteció que cuando volvían ellos, cuando David volvió de matar al filisteo, salieron las mujeres de todas las ciudades de Israel cantando y danzando, para recibir al rey Saúl, con panderos, con cánticos de alegría y con instrumentos de música" (1 Samuel 18: 6)..