terça-feira, 30 de junho de 2015

Música ancestral

O Candomblé na musica brasileira

A macumba.



Muita gente associa o Candomblé com bruxaria, com oportunistas que prometem milagres em troca de dinheiro, no dia a dia se confunde a cultura negra com superstição, poucos sabem do universo africano mais intuem que seja algo ligado ao mal, ao charlatanismo ou olham para isso como algo produto da própria barbárie humana.
Ao contrario quem conhece sabe que existe uma tradição e uma historia de respeito relacionada com quem detém este conhecimento, uma das pessoas que mais ajudou a divulgar o Candomblé no Brasil, por exemplo, foi a rainha africana Agotimé,   trazida como escrava , ela desembarcou na ilha de Itaparica e acabou fundando a “Casa das Minas”, de São Luís do Maranhão, em meados do século XIX.
Menciono este fato apenas para que se saiba que existe uma ancestralidade que qualifica o Candomblé, estamos frente a um conjunto de idéias, de mitos, de música, de dança, de roupas, oferendas que existem desde os primórdios da humanidade.
Na realidade se trata de uma serie de cultos e rituais de varias regiões diferentes da África que se reuniram na América (Haiti, Cuba, EE.UU, Brasil) como algo único apenas pelo fato que os escravos teriam que se unir em um ritual só.
A musica.
A música no Candomblé pode ser apreciada como um meio para se relacionar com as divindades, isto já nos coloca numa dimensão sagrada é poética do fazer musical.
Sendo a música uma linguagem privilegiada no diálogo dos orixás, o toque pode ser entendido como um chamado, ou uma prece.
Não se trata de um entretenimento nem uma expressão estética, estamos frente a um fenômeno que vincula o músico (chamado de Ogã) com o mundo transcendente, os tambores invocam aos Orixas.
Existe toda uma formação instrumental das cerimônias, a instrumentação é formada por um agogô (de uma boca ou duas ) chamado Gã , temos o Xequerê (chamado de Abê)  e três atabaques de diferentes tamanhos, existe , inclusive uma jerarquia, o músico mais experiente toca o Rum (tambor maior)  que é o que comanda ( o solista, também chamado de ogâ Alabê) e  ainda temos mais dois ogãs que tocam o Rumpi e o Lê (dois tambores menores).
Também são utilizados outros instrumentos que, não fazendo parte da “orquestra”, têm funções específicas. é o caso do Adjá, um sino de uma a sete bocas (campânulas) cuja principal atribuição é provocar o transe quando agitado sobre a cabeça
O Solista
Ao contrario do que temos no mundo ocidental onde os sons graves são os que conduzem a melodia ou são os solistas no Candomblé o sons graves são os se comportam de modo mais protagonista.
As frases que toca o Run (Tambor solista)  não são improvisos, elas estão em consonância com os movimentos do Orixa que esta “baixando” numa pessoa, assim, com seus ritmos característicos, cada orixá expressa, na linguagem musical e gestual, suas particularidades.
O aprendizado
A educação dos novos ogãs se dá como em outros grupos sociais (ciganos, por exemplo) desde criança, de forma oral, e no dia a dia fazendo que este aprendizado seja completamente natural e que produz uma identificação total entre o aprendiz e o conhecimento.
Conheço o caso de Nei de Oxosse e de seu pai, seu Erenilton  ( da casa de Oxumarê na Bahia) onde se pode constatar como a riqueza de toda uma cultura passa de geração em geração, neste caso especifico consegui verificar como o pai  formou um dos maiores ogãs do Brasil.  
A influencia na musica brasileira
Existe uma influencia indireta da música do candomblé em alguns ritmos e cantos no Brasil, por exemplo, no Recife a maioria das pessoas que participam dos grupos musicais, os chamados “brincantes”, do Maracatu e do Cavalo Marinho, praticam o Candomblé.
O mesmo acontece com os que participam de grupos de Jongo, de Folia de Rei, de Bumba meu boi (ritmos africanos que não são do Candomblé) o fato de que as pessoas frequentem os terreiros resulta que muitos dos ritmos, fraseados e tipos de interpretação se misturem.
A influencia direta
Temos o legado direto, por exemplo, temos frases do agogô do ritmo chamado Cabula que é o ancestral da frase do tamborim que encontramos no Samba de roda na Bahia e depois no Samba carioca.
Temos os toques do ritmo Ilú que podemos encontrar como base da caixa da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira.
Temos o Afoxê, que foi um ritmo criado no Brasil para unir aos terreiros de diferentes etnias como o Ketu, Angola, Jeje que foi incorporado na música popular brasileira por compositores como Gilberto Gil, Caetano Veloso, João Donato e muitos outros.
Existem compositores como Baden Powell com seus Afro Sambas , Vinicius de Moraes, Pixinguinha em composições como “Benguelê” ou cantoras como Maria Bethania e Clara Nunes que dedicaram também boa parte da sua obra a estes ritos africanos.
Os ritmos
Conheço alguns ritmos que fazem parte do universo do Candomblé, ritmos como o Alujá que é em 6/8 e que ainda não foi incorporado na música popular brasileira mais que com seu swing ele provoca todo um movimento interpretativo na dicção das semicolcheias.
A pronuncia das quatro semicolcheias que são à base de todos os ritmos brasileiros e cubanos quando são interpretadas com este outro sentimento ganham muito mais movimento e provocam uma espécie de superposição que permitem uma pronuncia muito mais dinâmica, quando escutamos uma Rumba cubana, por exemplo, é difícil saber se esta em 4/4 ou em 6/8 devido a este efeito.
Reconheço, alem dos citados, ritmos  que fazem parte do Candomblé como o Congo,  Opanijé, Barravento, Vamunha e muitos outros ...
A educação e o futuro
Existem músicos no mundo como Chucho Valdes que mistura todos os elementos do Candomblé de Cuba com o jazz, uma espécie de afro-jazz.
No Brasil a Rumpi Less orquestra também se inspira nos ritmos do Candomblé mais ainda é pouco.
A riqueza rítmica é tão grande, se trata, na realidade, de varias culturas que emigraram juntas, como se tivessem cubanos, argentinos, brasileiros exilados em outro mundo e formassem uma nova identidade a partir do Tango, Samba, Salsa....assim é a música ancestral..eu reconheço mais de 15 ritmos todos eles com sua personalidade própria.
Se ainda pensamos que no Candomblé de Cuba (na Santeria) a instrumentação e os ritmos são diferentes temos um verdadeiro arsenal tímbrico e musical que nos proba a riqueza deste imenso tesouro.
Penso que as academia deveriam iniciar as pessoas na valorização desta tradição assim como se estuda barroco ou qualquer outro movimento histórico nas universidades
Vamos entre todos, os que simpatizamos com esta cultura, tentar mudar o olhar para esta tradição e valorizar as lendas, os mitos, os cânticos para alimentar o nosso cotidiano com esta riqueza verdadeira.











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