terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A vida de Anibal Troilo

Troilo

Acabo de ler mais uma biografia de Troilo.
Sempre me surpreende com alguma anedota, sempre descubro uma nova dimensão para olhar sua vida, tudo colabora para que continue apaixonado pelo mito Pichuco.
Esta biografia, na realidade, é a compilação de vários artigos publicados num volumem da coleção “Historia del Tango” , é o volumem numero 18 da coleção, foi publicado pela editora Corregidor.
Entre os autores temos a Hector López, acompanham a publicação artigos de Catulo Castillo,Julian Centella e outros.
A parte de López é mais orientada a ser efetivamente uma biografia detalhada, a parte dos depoimentos e reportagens exaltam a figura épica de Troilo: “É o fazedor de uma obra sustentada e fundamentada por uma figura que responde a nuances cotidianos, metafísicos, existenciais como protagonista de uma aventura maior da historia do homem rio-platense”.
O testemunho de Catulo Castillo, na realidade, um tributo poético que coloca a Troilo como um personagem histórico na vida da cidade, como alguém que sobe interpretar o espírito portenho no que ele tem de singelo, de boêmio, de verdadeiro.

Para quem não conhece, vou responder esta pergunta: Quem é Troilo?

Nasceu um 11 de julho de 1914 no bairro de Abasto na capital argentina, morre em  Buenos Aires um 18 de mayo de 1975, seus nomes: o gordo , Anibal Troilo ou simplesmente:"Pichuco".
 Nunca esta demais dizer que ele  corresponde a  magnitude que teve um Ari Barrozo ,Pixinguinha ou um Noel Rosa para a música brasileira. Bandoneonista, compositor de músicas históricas como "Sur", "la última curda", regente da sua própria orquestra típica, arranjador, mestre de muitos músicos importantes, entre seus discípulos  na linhagem tangera encontramos nada mais a nada menos que ao próprio Astor Piazzolla.
Vale à pena ressaltar também que Troilo ademais do seu lado artístico foi uma pessoa completamente adorável e cheia de historias humanas e lendárias que, pelo seu carisma, como diz Julian Centella, lê valeu o titulo de o bandoneon maior de Buenos Aires.

Algumas historias.




Como comprou seu instrumento, parece que foi um presente divino porque a mãe de Troilo,Dona Felisa, queria que ele fosse farmacêutico mas o gordo depois de terminar o terceiro ano do segundo grau só queria saber de futebol, jogava de centro avante, assistir filmes  e  imitar o movimento dos bandoneonistas amassando uma almofada se imaginando músico.
Foi em um pic-nic que pela primeira vez se colocou o bandoneon sobre as pernas, Dona Felisa finalmente comprou um doble “A”, um instrumento alemão da fabrica dos irmãos Arnold.
Comprou o bandoneon por 120 pesos a pagar 10 por mês, chegou a pagar 40 pesos até que no quarto mês o cobrador não apareceu; a casa tinha fechado, como se o  destino quisesse dar ao gordo um presente sublime.
Pichuco apelidou de “jaula” ao instrumento porque pra ele continha o som de 100 pássaros cegos.
Outra historia famosa ocorreu quando Troilo conhece a Antonio Maida, decidem usar o dinheiro da passagem de Maida para voltar a casa e fazer um lanche; depois juntos voltariam a pé, acertaram que ao chegar a casa o gordo devolveria a divida e Maida assim pegaria o bonde; quando chegaram à casa de Troilo, Maida usando uma gíria que só as pessoas mais boemias conheciam diz para ele pedir a grana para a mãe, a mãe entende o mensagem cifrado e responde para Troilo:”te conheceu hoje e já te pede?”.

Sua relação com a música.

Pichuco estudou apenas durante 6 meses e logo depois começou a tocar profissionalmente , de calça curta, tinha 11 anos apenas, sua escola foi tocando na noite, nos bailes da vida.
A falta de um estudo formal fez que ele desenvolvesse sua musicalidade de forma intuitiva.
Durante muito tempo foi um músico que tocava os temas de modo livre, sem arranjos , na bossa, “a la parrilla” (na brasa) como se diz na gíria musical portenha.
Foi um criador, alguma das suas composições estão reconhecidas entre os tangos mais inspirados de todas as épocas, de um total de mais de 100, pelo menos umas 5 estão no pódio da historia: Sur,La última curda, Garua,Responso e Bairro de tango entre elas.


Foi exímio instrumentista, recriou tangos como “Quejas de bandoneon” e suas versões acabaram sendo uma referencia histórica.
Com seu estilo Troilo representa uma sonoridade diferente, a dos anos 40, o tango da “velha guarda” ficaria atrás, ele inaugura um comportamento menos estridente que de orquestras como a de Juan D´Arienzo.
Intuitivo por natureza para interpretar suas idéias recorreu a diferentes arranjadores ,sua direção musical era a de deixar que a melodia respire, apagava com uma borracha todos os contra cantos que pudessem interferir com a voz central, preferia as harmonias da música do período clássico as da  música impressionista, de compositores como Claude Debussy y Maurice Ravel.
As formações que uso foram , naipe de violines,viola,violoncello, piano, contrabaixo, naipe de bandoneones  e dois cantores; também realizou experiências em quarteto de violão,piano, contrabaixo,bandoneon e voz, em duo com violão junto a Grela,por exemplo, e inclusive gravou em duo de dois bandoneones junto a Piazzolla.

Em relação ao ponto do que se deve conservar e que mudar no Tango Troilo diz: "No se deve perder o clima que é a essência pura do estilo. O aspecto técnico e a instrumentação devem oferecer as características da época que vivemos; a evolução, a renovação devem ser o dominante de todas as artes, o estilo deve guardar sua harmonia e sua rítmica originaria".
Ele foi admirador do Tango de Puglese,de Horacio Salgan; não compreendeu o disco de Piazzolla com Mulligam nem as interpretações de Atilio Stampone.
Pessoalmente penso que á música precisa de estas duas correntes uma que afirma a beleza da tradição e outra que se constrói a partir da ruptura com o passado.

Historia com Piazzolla.

Sua historia junto a Piazzolla é imensa, quando Troilo morreu Zita deu de presente o bandoneon de Troilo em um gesto que tal vez simbolize a continuidade da historia viva.
Uma das historias testemunhadas no livro conta que em 1966 Piazzolla sonhou que ia fazer um arranjo do tango "verão portenho" para Troilo, acordou fez o arranjo sai na rua e encontra Troilo que efetivamente lê pedi o arranjo, Piazzolla tinha as partes em baixo do braço e diz :aqui esta!

Historia com Manzi.

Trás a morte de Homero Manzi, uma noite interrompeu um jogo de Bacarat se isolou em uma habitação para compor em pouco tempo sua obra Responso, um lamento que está catalogado como um dos tangos mais brilhantes de todas as épocas. O gravou logo se negava a tocar-lo. O fazia  a pedido dol público, mas se sabe que sofría quando o interpretava.
Troilo com Manzi compus “Sur”, o sainete “el patio de la morocha” e muitas obras inesquecíveis.

El mistério...

Manzi sempre falava que tal pessoa estava ou não no Mistério, como aludindo que se essa pessoa estava ou conhecia do que se trata a arte verdadeira ou a vida mesma..

Seu mundo.

Zita ,a grega, sua mulher de mais de 30 anos, sua companheira,seu culto pela amizade.
Paquito um amigo que sempre o acompanhou e sempre o ajudo a levar o instrumento,Antonio Maida,  Barquina,Goyeneche,Dona Felisa, sua mãe.
Pichuco fala que nunca saiu da casa da materna, nunca deixou de ser aquele moleque abraçado as 
saias da sua mãe.
Sua obra poética.

Troilo escreveu alguns poemas, alguns textos como “caliente”, cartas com certa preocupação poética como a que foi dedicada a Horacio Ferrer  mas seu poema “Noturno ao meu bairro” é realmente o mais conhecido, nele retrata sua relação com sua infância,seus amigos e sua mãe.

Anibal Troilo, Puchuco e o bairro
Troilo se criou no bairro de Almagro, lugar que reverenciou no poema Noturno ao meu bairro.
Almagro fica na altura de Corrientes e Bustamante, onde fica o mercado do Abasto, perto do centro da cidade portenha... Pichuco nasceu nesse trechinho de Buenos Aires e desde garoto sobe fazer o elogio do seu lugar e das amizades da sua infância primeira.
O poema Noturno ao meu Bairro onde fala justamente da sua pertença á Buenos Aires.... Duas coisas que gostaria falar do poema... A primeira a ideia de que a realidade não é algo apenas palpável, fidedigno, objetivo e sim o que misturamos nas nossas lembranças junto com o nosso olhar do passado e de tudo aquilo que significou aquela imagem na nossa memória afetiva.
A segunda questão é a do bairro, penso que é a nossa verdadeira nacionalidade. Não penso o conceito de nacionalidade como algo ligado aos símbolos patrióticos (bandeira, as cores)  é sim ao lugar íntimo e pessoal, o território único e pontual que recortamos da nossa infância e que eternizamos ao logo de nossas vidas e que reconhecemos como nossa origem.
Troilo no poema afirma que ele nunca deixou seu origem...que ele sempre esta chegando lá....
Aqui vai o poema que Troilo escreve durante os anos de 1950, poema onde ele percorre com olhar generoso o que se lembra do seu universo ancestral.
Coloco-o em espanhol e depois em português
Nocturno a mi barrio
Mi barrio era así, así, así.
Es decir qué se yo si era así?
Pero yo me lo acuerdo así!,
Con giacumin, el carbuña de la esquina,
Que tenía las hornallas llenas de hollín,
Y que jugó siempre de "jas" izquierdo al lado mío,
Siempre, siempre,
Tal vez pa'estar más cerca de mi corazón!
Alguien dijo una vez
Que yo me fui de mi barrio,
Cuando? …pero cuando?
Si siempre estoy llegando!
Y si una vez me olvidé,
Las estrellas de la esquina de la casa de mi vieja
Titilando como si fueran manos amigas,
Me dijeron: Gordo, gordo, quedáte aquí,
Quedáte aquí.
                                          -0-0-0-0-0-0-
Noturno ao meu bairro

Meu bairro era assim, assim, assim
Quero dizer sei lá se era assim?
Mais me lembro dele assim!
Com Giacumin, o carbuña (1) da esquina,
Que tinha as fornalhas cheias de fuligem
E que jogo sempre de ponta esquerda do meu lado
Sempre, sempre
Tal vez para ficar mais perto do meu coração

Alguém falou uma vez
Que fui embora do meu bairro
Quando, mais quando se sempre estou chegando

E se alguma vez esqueci as estrelas da esquina da casa de minha velha
Piscando como se fossem  mãos amigas
me disseram Gordo,  Gordo...fica aqui..
 fica aqui.
(1)    Carbuña...quem trabalha com carvão...dai as fornalhas ( o nariz) cheias de fuligem.
Este poema foi gravado na voz do próprio Troilo acompanhada pelo seu próprio bandoneon, aconselho escutar o vídeo  onde ele dramatiza o poema ao vivo durante uma novela de La televisão argentina.

Sua morte.

Todos deveriam morrer sem sofrimentos, Deus deu essa graça a ele; terminou de tocar voltou em casa, falou para a galera: “hoje vou jantar com a grega em casa”.
De manhã desmaio e morreu quase sem saber-lo. Depois ao hospital, a cerimônia fúnebre a visita do povo e de seus pares no teatro San Martin na sua rua Corrientes até seu sepulcro no cemitério da Chacarita.

Minha relação com Troilo.

Minha admiração por ele como compositor, como símbolo de Buenos Aires, me lembro de três
historias a primeira quando eu tinha 10 anos , estava hospedado no Hotel Hurlingan em Mar del Plata (cidade balneária há 450 km de Buenos Aires), do lado do hotel existia uma famosa sorveteria chamada Lombardero, de repente entra Troilo com Zita e alguns amigos e me pai me diz: ”aquele é Troilo”, aquela figura agigantada pelo tamanho e pela estatura simbólica estava na minha frente tomando um “dom Pedro” (sobre mesa composta por um sorvete de baunilha e uma doses de whisky).
Segunda historia , em 2010,meu pai, que sempre me envia noticias e recortes de jornais onde falam de Pichuco decide realizar uma reunião e convidar a duas figuras que conheceram o mito, foi “el flaco” Ruano (amigo pessoal de Troilo, homem da noite portenha) e Caito bandoneonista admirador da obra troileana.
Finalmente, em 2014 em ocasião do seu centenário organizei um show no Rio de Janeiro onde foi interpretada a Suite troileana ,obra de quatro movmentos –whisky,Zita,escolaso e bandoneon- que Piazzolla dedicou aos quatro”vícios” do gordo, terminamos o espetáculo interpretando Sur, La última curda e Romance de bairro.







sábado, 22 de agosto de 2015

Jazz em Cena no Rio de Janeiro


O Jazz no Rio  neste ano de 2015 esta vivo, podemos afirmar que existem algumas casas onde acontecem eventos, muitos bons músicos,  uma historia e  uma multiplicidade de propostas dentro disso que chamamos de jazz.
No Rio nos anos 90 teve a Rio Jazz clube, o Jazzmania , o People , o Mistura fina, casas que abrigaram projetos de jazz e que já acabaram, festivais como o Free Jazz que aconteceram no Hotel nacional e eventos ao ar livre que aconteciam os domingos a tarde no parque das Catacumbas e no Arpoador...depois  tivemos a Moderm Sund, o Cais de Oriente, Esch Café no Leblon e no Centro, o Santo Scenarium na Lapa ...
Hoje tem Festivais de Jazz em Rio das Ostras, Festivais organizados por empresas ligadas a cartões de créditos ou automóveis  como  a American Express Jazz Festival que troce a Wilton Marsalis ao Rio, o Festival Mimo também vai trazer este ano atrações de jazz ao Rio e inclusive alguns nomes como Keith Jarret são convidados de teatros como o próprio Municipal. A rua do Lavradio tem um festival de jazz de New Orleans no carnaval e agora, dias atrás, tivemos o Rio Jazz Festival acontecendo.

Lugares para ouvir.

Vou listar alguns lugares onde o que chamamos Jazz isto é a música instrumental que inclui improviso pode ser ouvida.
 1)       Triboz ( Lapa).
 2)      Arlequim (Paço Imperial).
 3)      Jazz no Ouvidor  (Centro)
 4)      Cais de Oriente (Centro)
 5)      Vizta. (Leblron)
 6)      Beco das Garrafas (Copacabana)
 7)      Hotel Novo mundo (Flamengo)
 8)      Jazz no Morro ( Cantagalo)
 9)      The Maze (Catete)
 10)    Quioskes da Lagoa como o Arabe
 11)   Al-Farabi (Centro)
 12)    Semente (Lapa)
 13)   Brasserie. (Centro)
 14)   Pedra do Sal (Gamboa)
 15)   Otto (Tijuca)
 16)    Carodosão (Laranjeiras)
 17)   Moviola livraria (Laranjeiras)
 18)   Museu do Ingá (cinema jazz)
 19)   Bar Italia ( Niteroi).
 20)   Cariocando  (Catete)
 21)   Saraus fechados, mas que acontecem regularmente como o numa casa particular na Gavea.
 22)   La Carmelita ( Centro)
 23)   Godofredo (Botafogo).
 24)   Hotel Pestana (Lapa)
 25)   Cantinho da Batata (Niteroi).
 26)   Marco (Santa Teresa).
 27)   Zacks (Botafogo)
 28)   Jazz no AABB (Tijuca)
 29)   Terças com Jazz na Igreja Bete-Javet de Queimados
 30)   Leviano Bar (Lapa)
 31)   Armazém do Jazz (Realengo)
 32)   Intrumental Nueva Vida (Botafogo)
 33)    Armazém Cultural São Joaquim (Santa Teresa)
 34)   Inferninho Chique (Lapa)
35) Olho da Rua (Botafogo)
36) Armazém 102 (Botafogo)
Os Estilos.
As alternativas são desde um som mais experimental até um som comportado, sempre com o ênfases no improviso e no repertorio  de standars brasileiros (bossa, samba-jazz)  ou americanos (baladas, be-bop, funk jazz).
No ano de 2010 aconteceu no Rio um fenômeno importante, bandas como Nova Lapa e quinteto Nuclear chegaram a reunir mais de 500 pessoas por noite nas ruas da Lapa,hoje essa geração nova como Pablo Arruda, Guga Pellicciotti e outros músicos  formaram outros novos projetos como o “Afro Jazz” e se multiplicam oferecendo novas tendências do estilo .
Outra alternativa é o som autoral de grupos de música instrumental que misturam música brasileira com improvisos e que se apresentam em casas como o Semente , o Arthur Dutra seria um dos seus expoentes.
Temos outros grupos que cultuam o som dos standars como o que faz o pianista Osmar Milito no hotel Novo mundo toda semana .
Mais uma possibilidade interessante  seria a que realiza o músico Roberto Rutigliano com seus tributos a grandes nomes do jazz, shows dedicados a Miles Davis,Coltrane, Charlie Parker e Cortazar, Billie Holiday que acontecem periodicamente no Arlequim no Paço imperial.
Temos grupos de sopros como Saxophonia do Idriss Boudrioua e o grupo Inventos do Vitor Gonçalves.
Existe também a alternativa do Samba-Jazz no tradicional Beco das Garrafas e no Braserrie no centro com artistas como Kiko Continentino o nas calçadas de Ipanema com o grupo de bossa nova “olho da rua” de Paulo Rego.
Temos o chamado Jazz cigano da tradição de Django Reinhardt com o guitarrista YuVal ben Ilor.

Temos também  grupos que cultuam um diálogo com a música de câmara como o duo de Gilson Peranzzetta e Mauro Senise, adeptos de formações diferentes  como a de órgão, guitarra e bateria com a pianista Vanessa Rodrigues, formações de fanfarras  como a que participa Pedro Aune a Orleans Original Jazz , misturados com estilos brasileiros como o choro com grupos como “Tira  Poeira” , "Tira o dedo do pudim" com Antonio Guerreiro ou o próprio Hamilton de Holanda;, podemos encontrar também outros desdobramentos, puxando mais para estilos dançantes do jazz como o que pratica o guitarrista americano Mark Lambert, também temos o pessoal do latin jazz com músicos como Adrian Barbet ou Altair Martins,.
temos até o Tango Jazz com o grupo Tango Negro.
Existe também a alternativa de escutar o jazz misturado com a temática ancestral afro-brasileira com o saxofonista Glaucus Linx.

A trajetória.

Existiram músicos de jazz brasileiros como o próprio Pixinguinha que curtia o ragtime e ao Luis Amstrong, depois orquestras como a Tabajara que incluíram no seu repertorio clássicos americanos, músicos como K-Chimbinho, Paulo Moura, Edison Machado, Claudio Caribé , Barrosinho, Nico Asumpção , Jose Roberto Beltrami, Marcio Montarroyos , Ion Muniz ou Vittor Assis Brasil que realmente marcaram época na historia do Jazz brasileiro.
A galera do Samba-Jazz como o grupo Os gatos, Rio 65 trio , Tamba trio foram também fundamentais para o som instrumental na metade da década do 60.
Nos anos 70 toda uma geração de músicos emigrou para estudar nos EE.UU e em 1978 se realiza o primeiro festival internacional de Jazz em São Paulo com a presença de esto músicos que voltavam da Berklee misturando jazz com o sotaque brasileiro.

Os gringos. 
Podemos destacar também a importância da presença de alguns estrangeiros na formação e no desenvolvimento do jazz nestas latitudes : Dario Galante, Idriss Boudrioua, Mark Lambert, Adrian Barbet , Roberto Rutigliano, Andy Connell, Brunce Henry, Pablo Lapidusas, Torcuato Mariano, Victor Biglione,Cliff Korman, Leonardo Amoedo São algum deles .
Gostaria também de destacar a importância que teve a presencia de alguns músicos estrangeiros  consagrados  na historia e no registro de discos dedicados ao jazz brasileiro: Kenny Barron por exemplo gravou discos lindos dedicados ao Samba Jazz, o próprio Cannoball Aderley e o Gerry Mulligan frequentaram o Brasil na época da bossa nova...Toots Thielemans gravou discos lindos dedicados a um diálogo entre o jazz e a música brasileira e o laureado Coleman Hawkins também se rendeu aos sons cariocas gravando Desafnado de Tom Jobim.

 .

Os protagonistas atuais.

Os músicos dedicados ao estilo são de alta qualidade técnica e todos tem muita capacidade de improviso que é o que realmente caracteriza o estilo, entre os que estão na ativa  musical podemos citar: Sergio Barrozo , Bruno Aguilar, Luiz Alves, Nema Antunes,Jorge Elder,Alex Rocha, Paulo Russo , Ronaldo Diamante, Adrian Barbet, Jeferson Lescovich, Bruno Migliari ,Pedro Aune, Alex Malheiros, Edson Lobo,Augusto Matoso, Tony Botelho, Xandy Rocha, Guto Wirtti, Adriano Gifoni, Ed Menezes, Nei Conceição, Jimmy Santa Cruz, Rodrigo Vila no baixo e contrabaixo , Kiko Continentino, Adriano Souza, Claudio Andrade,Luiz Otavio, João Braga, Eduardo Farias, Tomás Improta, Gilson Peranzzetta,  Itamar Assiere, Gijs Andriessen, Rodrigo Zaidan, Natan Gomes, Hamleto Stamato, Dudu Viana, Flavio Paiva, Marbio Ciribelli,  Fernando Morais, Adaury Mothé, Leandro Freixou,  Rafael Vernet, Vitor Gonçalves,Antonio
Adolfo, Wan Chagas, Cliff Korman,Eumir Deodato, Pedro Milman, Marcos Ariel ,Marco Tommaso, Dom Salvador, Jeff Garden, Zezo Olimpo, Osmar Milito, Leo Freitas no piano, Robertinho Silva, Axu, D;Stefano, Roberto Rutigliano, Cassius Theperson Rafael Barata, Xande Figueredo , Paulo Diniz, Vitor Beltrami, Guga Pelliciottii, Andre Tandeta, João Bittencurt, Lucio Vieira, Jurin Moreira, Paulinho Braga, Erivelton Silva, Ivan Conti “Mamão”, Wilson Meirelles, Mac Willian Caetano, Tuti Moreno, Lourenço Dias de Vasconcellos, Pascoal Meirelles,  João Cortez, Renato Calmon, Kleberson Caetano, Luisinho Sobral,Kiko Freitas, Fernando Pinto Pereira Emile Saubole, João Viana, Kim Pereira na bateria, Marcelo Martins, Fernando Trocado, Altair Martins, José Arimateia, José Bigorna, Guta Meneses, Paulo Levi, Josué Lopez, Leo Gandelman, Eduardo Neves, Jesse Sadoc, Idriss Boudrioua,Afonso Claudio,  Ricardo Pontes,Thiago Ferté, Mauro Senise , Claudio Roditi, Daniel Garcia, Gustavo Contreras, Widor Santiago, Paulinho trompete, Diogo Gomes Serginho trombone, Glaucus Linx , Zeca Maretzky ,Mike Ryan, Yuri Villar, Alexandre Caldi,Carlos Malta ,Gabriel Grossi, Mauricio Einhorn, Vander Nacimento, Julinho Merlino nos sopros, Alexandre Carvalho, Leonardo Amoedo, Marcos Amorin, Victor Biglione, Bernardo Bosisio, João Castilho, Dino Rangel, Thiago Trajano, Nelson Faria, John Cassio e YuVal ben Ilor,Torcuato Mariano, Robertinho de Paula, Ricardo Silveira , Gabriel Impronta, Luiz Poter, Toninho Horta nas guitarras, Chico Chagas no acordeom.
Cantoras como Alma Thomas, Rowena Jameson, Folakemi. Leila Maria, Indiana Nomma, Andrea Dutra ...
Big Band como a Baixada Jazz Band, UFRJAZZ e a Orquestra Atlântica, a orquestra Revelia.
Importante destacar a figura de "anjos da guarda":  produtores , amigos da causa como Nego Bom  do Jazz, Mauro Wermelinger que milita por uma música instrumental fora da estética do "happy hour", donos de lojas de discos que acabam se tornando  radiadores da cultura, pessoas como Marcio Pinheiro que ajudaram a desenvolvem este movimento, radialistas como Jota Carlos e como Antonio Jorge que durante anos levou o programa de jazz na radio Catedral ( hoje comandado por Sidney Ferreira) , Reinaldo Figueiredo humorista , contrabaixista da Companhia Estadual de Jazz e radialista ao mesmo tempo - guerreiros genuínos que apoiam a cultura.

Jam Session.
um estilo tem seus músicos, sua instrumentação e também uma serie de standars que debem chegar a uns 120 que todos os músicos conhecem e que tocam habitualmente, estas músicas normalmente estão escritas no Real Book que é uma especie de catálogo dos temas que se sugerem em estas reuniões informais.
Músicas  como Estela , My funni Valentine, Cantalupe Island de Herbie Hancock, de Wayne Shorter - Footprints -, Amazonas de João Donato,Bananeira de Moacyr Santos, Solar de Miles, Bossas novas  como Samba de uma nota só ou composições de Jobim como Chovendo na Roseira, músicas do Hermeto como o Ovo fazem parte deste cardápio musical.

O novos.
Existem garotos que hoje estão com pouco mais de 20 anos mas que já convivem com a música desde pequenos e que tem uma performance de destaque, podemos falar do pianista Eduardo Farias, dos bateristas Lourenço Dias Vasconcellos (também compositor), e Antonio Neves (também trombonista) ,dos baixistas Miguel Dias e Pablo Arruda   e do guitarrista e produtor Luiz Potter apenas para falar de alguns deles.


Grupos.

Podemos falar de grupos como Azimuyh, de Cama de Gato como alguns dos mais conhecidos, Hermeto Pascoal poderia ser considerado um músico com uma linguagem relacionada com o jazz que realizou o projeto de grupo por muitos anos ; temos também grupos importantes e menos conhecidos como "Balya" do Xande Figueredo, Rafael Vernet, Ed Menezes e Eduardo Neves e o Xekerê com varias formações e "Sem Batuta"do Alexandre Caldi,Pindorama foi outro grupo autoral do Flavio Paiva, Ronaldo Diamante, hoje temos ainda o grupo Bamboo.  o Agua Viva  ou o grupo do pessoal mais jovem o Taranta como exemplo de projetos com uma agrupação fixa.

Final.

O jazz é um estilo que prima pela criatividade e que possibilita que o ouvinte presencie ao vivo performances de improvisos que sempre trazem algo de novo e de estimulante para seus ouvidos.
Cortazar afirmava que o Jazz seria uma espécie de música folclórica universal  algo que faz você se sentir em casa, que nos acolhe com uma sonoridade familiar quando você esta em qualquer pais como se fosse uma música que nos acompanhou sempre a todos lados.






quinta-feira, 6 de agosto de 2015

O mito do Tambor

O Tambor sacrílego e o Tambor sagrado.

Como dizia Nietzsche no livro "Assim Falava Zaratustra": "Eu só poderia crer em um Deus que soubesse dançar".

Introdução.

Existem muitos julgamentos e diferentes apreciações em relação ao tambor (com este nome na realidade estou incluindo a percussão na sua totalidade: bateria, tumbadoras, atabaques, etc). Olha-se para ele apenas como algo que produz um som estridente, se o associa ao barulho, ao ruído; mas também existe quem o aprecie pelo viés da pluralidade tímbrica dos seus múltiplos sons e o veja associado ao ritmo, ao lado cadencioso e lúdico da base musical.


Para os músicos, os tambores representam uma alternativa necessária na instrumentação de alguns estilos, podemos citar o caso do Jazz-fusion, da música latina, brasileira ou uruguaia, por exemplo, onde normalmente se usam vários percussionistas e bateria numa mesma formação instrumental ou, como acontece na música clássica e na contemporânea, onde se incorporam vários percussionistas numa peça para engrandecer o colorido e para introduzir diferentes combinações tímbricas das que encontramos nas instrumentações dos grupos de câmera habituais.
Para alguns o tambor é coisa de amador, um instrumento menor ou secundário, como ele não toca em alturas determinadas e como normalmente não se escrevem partitura para ele, se o pensa em um papel coadjuvante. – disso dá exemplo o fato de na “Ordem dos músicos do Brasil”, para se avaliar quanto à remuneração econômica, existe uma tabela para músicos e outra para ritmistas.
 Estas tendências geram avaliações, e do ponto de vista de um julgamento simbólico, olha-se o tambor, por um lado,  como algo  sacrílego ou  maldito e  em outras  situações , ao contrario, como algo ligado ao sagrado ancestral,  como  um som abençoado  .
Os mitos.
A história vem de muito longe, assim como na tradição grega se conta que o deus Hermes  furtou de seu irmão Apolo cinqüenta vacas para criar a lira e criar todos os sons ,como diz Chico Buaque na letra da música “Choro bandido”,  dentro da tradição babilônica temos um mito para contar a criação do tambor.
Trata-se do primeiro romance da historia, onde se conta o relato chamado da “Epopéia de Gilgamesh” (1), são poemas sumerianos (da antiga mesopotâmia) que narram os feitos do famoso Gilgamesh que viveu na primeira metade do terceiro milênio antes de Cristo.
(
Essa obra narra como da primeira arvore  que existiu na terra se construiu um tambor e uma baqueta  que receberam o nome de Pukku e Mukku.
“Dos galhos, da coroa da árvore de Hulupu, Iranna fez um tambor para Gilgamesh “
O herói de Uruk”.

No terceiro texto, o tambor e a baqueta, por alguma razão caem no abismo, chamado de inferno  (2), o Tambor sagrado e a baqueta sagrada  não podem ser resgatados por Enkidu  que mergulha para buscá-los. Ele não conseguiu resgatá-los e nem sair do inferno porque ninguém sai da terra dos mortos com vida mais o deus Enki pratica um buraco no chão e permite que a sombra do Eikidu conte para Gilgamesh a triste situação dos que ficaram embaixo. O tambor e a baqueta não foram resgatados.

A percussão nas culturas.

Compressão sagrada da percussão.

Depois de conhecer esta perspectiva  mítica do tambor podemos inferir alguns conceitos, primeiro o caráter sagrado dos instrumentos; no Candomblé (3) , por exemplo,  são consagrados, eles recebem uma benção e só podem ser tocados pelos Ogans (4). No Candomblé de Cuba, conhecido como Santeria, os instrumentos além de serem consagrados são feitos por encomenda e destinados a um único tocador daquele tambor.
Temos no Candomblé brasileiro uma instrumentação de percussão : o agogô, o xereré, e trés tambores (atabaques) que recebem o nome de rum, rumpi e o .
Dentro da mesma cultura em Cuba, este tambores tem outra forma, os tambores bata, também são três, recebem o nome de : o ijá , itótele e okónkolo.
Em esta tradição o tambor se comunica a partir dos músicos com a divindade, no caso com os Orixas , que representam as forças da natureza.
Falamos da compressão respeitosa que se tem da percussão na cultura na Grécia, na Pérsia antiga, na cultura africana; nas cultura orientais, no budismo inclusive, o som do sino é considerado  sagrado. O nome de estes sinos é  Bonshō (梵鐘 Sinos budistas), também conhecidos como tsurigane (釣り鐘  Sinos pendentes) ou ōgane (大鐘 Grandes sinos)são sinos de grande dimensão que se encontram nos templos budistas budistas no Japão, utilizados para chamar os monges para a oração, e para marcar períodos de tempo. 

Na Índia a instrumentação percussiva é muito ampla, temos as tablas, pakhawaj, dholak da família de instrumentos com pele, ainda existem cascaveles conhecidos como gunguru  e pequenos címbalos chamados de Crotal . 



Na Índia assim como no Japão o tambor era considerado um instrumento relacionado com a religião.
O Deus Lingo era considerado o primeiro músico e Ganesha o Deus do som.
Existem instrumentos de percussão encontrados em escavações que datam de 3000 Ac.
Existiram timbales conhecidos com o nome de dumdubhi  utilizados nas cerimônias religiosas para cantar aos deuses e na guerra como uma especie de talismã. (5)

Nas populações indígenas no Brasil embora exita uma diversidade que nos impede falar delas com um todo,  ainda assim podemos encontrar algumas similitudes que nos permitiriam afirmar que a maioria dos povos indígenas associa a música com o universo transcendente e mágico , isto tem seu origem nos mitos fundadores.
Um desses mitos fala que a música foi um presente do deuses, existiria uma música original que habita no mundo dos sonhos,  do mundo ancestral evocada pelos sacerdotes e que são socializadas em festividades grupais sendo um elemento fundamental na construção do que chamaríamos em ocidente de cultura.
O canto, a percussão fazem parte de esta experiencia sonora  que é predominantemente coletiva.


Compreensão profana da percussão.


Em oposição ao lado sagrado temos o lado sacrílego do tambor: o cristianismo considerou a partir de alguns parâmetros estéticos excludentes, que alguns choques harmônicos nas vozes dos corais e que os timbres que resultavam dos instrumentos de percussão seriam considerados indesejáveis.
A instrumentação percussiva referida na tradição na bíblia, no antigo testamento não menciona a palavra tambor mas usa a palavra pandeiro, a tradição cristã desde David privilegiou o canto coral (6),  a percussão se restringia a pandeiros e címbalos se considerando aos tambores mais relacionados com rituais pagãos, isto criou um estigma em torno a percussão e esta passou a ser associada com   algo pouco propicio para entrar nos lugares sagrados.
O que vemos na realidade  é que o lado rítmico, não só o do som, mas o lado ligado ao que poderia provocar um movimento, dança, algo lúdico também  foi banido se o associando ao lado pagão do fazer musical.

Outros desdobramentos que afetam a percussão.




Falamos do sagrado , profano, do lado rítmico associado ao tema, agora  vamos observar o que acontece pelo lado estritamente racional-musical , podemos constatar no dia a dia o preconceito que existe no imaginário social , no senso comum,  e inclusive em alguns músicos e ouvintes ao se referir a percussão como uma sonoridade menor, isto resultado de uma avaliação que esta associada com o menospreço que se tem com todo o ligado ao  fato de que a percussão não define alturas reconhecidas dentro do sistema tonal mas mais que nada por que a percussão esta associada ao lado intuitivo e irracional em oposição ao  saber "culto" ou acadêmico.

Demorou muito, por exemplo, para que seja incorporado no curriculum das academias o ensino de percussão, para sejam publicados métodos, transcrições para que o saber oral seja colocado na pauta.
A percussão ligada com a música de concerto sim mas o estudo da percussão popular e da bateria ainda não tem espaço para um estudo mais aprofundado a nível universitário em países como o Brasil.
Este desprezo envolve  também uma aversão com todo o associado com a cultura negra, decorrente inclusive de uma ideia de superioridade racial  ligada com o status social  e também , em este caso, com aquilo que remete ao sentimento e ao corporal. sempre inserido e latente no conceito do que significa percutir bater, tocar, 

Conclusão.

Temos que refletir que vivemos em uma cultura que esta  dividida entre duas forças, uma  que aceita e explora a musicalidade  da percussão com todas suas possibilidades, cores e conteúdos, que ainda o coloca no lugar do sagrado e em confronto temos um outro lado que nega este saber, que sobre valoriza a musica tonal e a "razão" , produzindo uma dicotomia binária fundado em uma polaridade simplória  que nega sem elaborar a multiplicidade de sons e de opções que nos oferece a música e a vida. 
Vivemos entre estas duas forças, fica aqui para um debate posterior minhas considerações sobre a relação da cultura com a percussão.


Notas

(1)     Fonte ‘Uma apresentação da epopéia de Gilgamesh”, Jose Trinidade Serra, fundação cultural do Estado de São Paulo – 1985.
(2)     Na Antiguidade, o inferno foi entendido a partir de sua semântica, como o plano inferior,  a terra dos mortos, e não no sentido  cristão como o lugar onde se pagam os pecados.
A segunda observação que podemos fazer é que o tambor e a baqueta ficaram no “mundo dos mortos”,  como conseqüência o som do tambor nos remete ao mundo subterrâneo, aquela imagem de repente nos serve como símbolo de uma sensação que produz a percussão e que nos  brinda sensações realmente profundas , ligadas, inclusive ao mundo da morte e dos mistérios da  vida, algo ancestral e sagrado que este poema de algum modo eternizou.
(3)    Estamos nos referindo à religião afro-brasileira.
(4)     Músicos do Candomblé
(5)  citado do catedrático James Blades, 
(6) Aqu uma citação do velho testamento onde se refere ao uso do pandeiro mais de 1700 anos AC.  "Aconteció que cuando volvían ellos, cuando David volvió de matar al filisteo, salieron las mujeres de todas las ciudades de Israel cantando y danzando, para recibir al rey Saúl, con panderos, con cánticos de alegría y con instrumentos de música" (1 Samuel 18: 6)..






terça-feira, 7 de julho de 2015

Minhas influencias musicais, um diálogo entre varias culturas.

A seguir, a ideia é mostrar alguns estilos e idéias que acompanham minha trajetória musical

       1 )    O jazz e a música instrumental. 2 )    A música clássica e contemporânea.   3)     A música brasileira e o diálogo com a música argentina. 4)    A música latina.  5)     O tango. 6)     A música autoral.


O jazz.

Minha relação com o jazz é antiga, escutei desde pequeno big bands no radio da Argentina, ao longo dos anos fui tendo encontros com discos ou artistas que me mostraram coisas que realmente me impressionaram...posso  comentar o encontro com a música “take Five “ como algo que rompe com o que eu estava acostumado a entender como jazz... o grupo de Dave Bruberk, Paul Desmond (sax), Joe Morello (bateria), Eugene Wright (baixo) e o Dave Brubeck (piano)  rompem com o compasso de 4 e inclusive me colocam em contato com um tipo de jazz mais artístico.
Depois a experiência de escutar a Weather Report ao vivo  foi  realmente impressionante, eu vivia no subúrbio de Buenos Aires e não tinha acesso a uma educação musical qualificada nem contato com experiências musicais transcendentes, mais comecei a freqüentar o centro urbano de Buenos Aires e a respirar um outro ambiente, isso com 17 anos, em 1975, na época a música Birdland de Joe  Sawinul ganhou uma repercussão mundial e isso permitiu chegasse a meu ouvidos,  inclusive o grupo foi tocar na Argentina e tive a sorte de assistir ao vivo ao Jaco Pastorius no baixo, Peter Esrkine na bateria, Wayne Shorter no sax , Joe Sawinul no teclado e o Manolo Badrena na percussão.
Depois o encontro  auditivo com Chick Corea,Miles Davis, Bill Evans, Pat Metneny , Coltrane...também foram  fascinantes.
Tive varias agrupações de música popular argentina até que em 1988 viagem ao Brasil onde gravo com Sergio Nacif o primeiro disco do selo Niterói Discos onde participa Yuri Popoff e Nelson Faria.
No Brasil toquei muita música instrumental  (gravei três discos com o grupo Xekerê  entre os anos de 1990 ate o 2000) , depois formei junto com o baixista do Hermeto Pascoal a Itiberê Orquestra Família com a qual gravamos um disco duplo.
Agora tocar exclusivamente um repertorio de Jazz é algo que aconteceu nos últimos anos. Esta direção se fez mais intensiva quando escolhi  abraçar diversos projetos  no formato de tributos, isto começo com o tributo a Bill Evans, junto a Bruno Migliari e Dario Galante em 2010.
A partir dali senti que dedicar o repertorio a um artista me permitia conhecer a obra da pessoa  ao qual era dedicado o repertorio e assim também me familiarizar com a discografia e os diferentes momentos do artista escolhido.
Nesse caminho porduzi show homenageando a John Coltrane, West Montgomery, Duke Ellington, a Thelonius  Monk, Elvin Jones, Charlie Parker, Miles Davis , Horace Silver  e Billie Holiday.

A concepção do Jazz
Minha  experiência com o jazz me ensinou que existe o estilo jazz, dentro dele temos as baladas, as valsas jazz, o swing, o be bop , a misturas como o jazz latino mais o mais importante é uma postura mais livre para interpretar , uma atitude onde não tocamos o que esta escrito, remanejamos os ritmos, a harmonia de tal modo que esse comportamento o podemos aplicar a outros estilos para alimentar-los.

Esta foi a última formação do grupo Xekerê  um projeto que durou 10 anos e que rendeu três discos autorais.


2) A música Clássica.

Nos anos  70 e 80 a educação musical para quem quisesse estudar bateria era quase nula , na minha época  a  pedagogia  aplicada a percussão estava orientada pela leitura, técnica e o repertorio era  dirigido para a música clássica.
A música popular se tocava intuitivamente e se passava por transmissão oral, assim que quando estudei formalmente música, a partir dos 17 anos, tive uma educação que me orientava mais também teve contato com obras importantes como “Ionisation” de Edgard Varesse e “la tocata” de Carlos Chavez entre outras, obras que tinham uma proposta mais de composição do que de algo mais ritmico.
O desafio final venho logo, a primeira obra que toquei em uma orquestra sinfônica na minha vida, foi em Buenos Aires, era um orquestra formada por solistas de várias outras orquestras e em essa ocasião foi regida pelo maestro  Pedro Ignacio Calderon que foi  diretor titular da orquestra Sinfônica Argentina.
Quem me levou foi meu professor de percussão, o maestro Antonio Yepez, a obra era Scherezade de  Rimsky Korsakov, toquei caixa e  a caixa dessa obra é considerada uma das mais difíceis do repertorio sinfônico.
Essa obra ficou marcada ao ponto de eu retomar ela e inclusive recentemente gravamos um dos movimentos num arranjo para piano e bateria com o pianista Tibor Fittel .
Em 1999 conheci a Odette Ernest  Dias e com ela decidimos  formar um duo de flauta e bateria, esse duo durou 10 anos e com ela tocamos  as Fantasias de Telemann, a Suite em Si menor de Bach, obras de compositores como Jolivet e inclusive outras compostas especialmente para o duo de caráter mais contemporâneo.
Outra experiência que gosto de fazer é a de misturar o comportamento popular e clássico....para isso formei uma banda chamada Jazz in Câmara  com a qual tocamos músicas brasileiras populares ou não mais com uma atitude de conciliação dos dois conceitos.
O grupo era formado por Ana de Olveira (violino), Tony Botelho ( contrabaixo), Tomás Improta (piano) e eu na bateria...

Anos atrás (2011) formamos um projeto interessante com a Heloisa  Fischer ( produtora do Viva música) , Edu Krieger, Marcelo Caldi e Carlos Prazeres...se formou uma pequena orquestra de uns 15 músicos com repertorio de música clássica em  tom carnavalesco chamada Feitiço do Vila.
Aqui a foto...
Atualmente estou realizando um novo dua dedicado agora á música clássica brasileira: Radamés Ganatallli, Cláudio Santoro, se trata de um duo de piano e bateria junto com Fernanda Canaud.



3) A música brasileira

Minha experiência auditiva com a música brasileira foi desde criança, Vinicius de Moraes morou em Buenos Aires nos anos 70 e assim conheci a Bossa Nova, Tom Jobim, Chico Buarque e mais tarde Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, os diferentes ritmos , os estilos.
Minha viagem a Brasil foi inclusive provocada porque minha vivencia em Buenos Aires naquela época o músico popular era valorizado pelo seu virtuosismo e a relação com a música clássica me parecia artificial por um excesso de quantificação na relação entre a escrita e a interpretação.
Eu tinha tido uma experiência com a metodologia da Berklee  e tinha rechaçado ela por que apontava basicamente a  uma serie de exercícios técnicos de aprimoramento mais eu precisava ainda desenvolver a musicalidade.
Como turista  conheci o Rio e  nesse contato olhava a relação dos músicos de chorinho ou de Samba com a música e pensei que em contato com essa experiência poderia  crescer artisticamente.
De modo paralelo tinha assistido a um show de Hermeto Pascoal no teatro em Buenos Aires e toda aquela liberdade.
A convite do Conservatório Brasileiro de música tive a oportunidade de dar aulas formalmente e acabei me decidindo a morar no Brasil, me radiquei no Rio e na época não existia um estudo formal dos ritmos brasileiros assim que tive que fazer a experiência de assistir, observar e fazer o processo de aprendizado dentro da  conceição da tradição oral, freqüentar os lugares, conhecer as pessoas e ir naturalmente tendo uma relação orgânica com esta música.
Conheço desde a música clássica brasileira, Villa lobos, Gerra Peixe, Claudio Santoro até sambistas como Cartola, Serginho Merity (com quem teve o prazer de tocar), música instrumental, música ancestral (candomblé, jongo, bumba meu boi, Escola de Samba), Choro, maxixe, tudo.
seguindo com o diálogo entre as culturas  no começo de 2014 tocamos com Daniel Binelli , Juan Pablo Navarro, Américo Belloto e Abel Rogantini na Argentina a música “Naquele Tempo” de Pixinguinha....



Hoje em dia toco no Rio um projeto com obras de Edu Lobo e em Buenos Aires tocamos também o repertorio brasileiro com artistas locais que amam e conhecem Jobim, Gismonti, Hermeto,etc.

No final de 2014 realizamos um show  no Café Vinilo no bairro de Palermo na capital  da Argentina.
Os músicos são Abel Rogantini no piano, Américo Belloto no trompete e Diego Waigner no contrabaixo .
Dentro de este tema que é a música brasileira tem um espaço muito importante para mim o que chamo de "música ancestral", 
Estudei ritmos usados nas cerimonias do Candomblé e toquei estes ritmos junto a pessoas como Nei de Oxosse e seu pai seu Erenilton formamos um grupo de música dedicado ao Afoxê chamado filhos de Korim Efã, estudei e escrevi artigos exaltando toda esta cultura e hoje reconheço a importância de toda esta riqueza presente na música brasilieita, latina e no jazz.

4) A Música Latina.

Conheço a música latina também desde criança e o fato de ter certo sotaque me ajudou no Brasil para ter um ponto de diferenciação com os músicos locais.
Tive vários projetos nos quais inclui música cubana  tradicional, Salsa e Latin Jazz.
Durante quatro anos teve uma pequena orquestra de 9 músicos tocando música latina na Lapa que se chamou Rio-Latin-Jazz.
Aqui um vídeo de um show ao vivo no Circo Voador.
Outro projeto que tive importante foi o Latin-Jazz –Ensemble junto a Paulo Russo, Marcelo Martins, Arimateia entre outros.
Com este grupo tocamos no Festival internacional de Embrach na Suíça.
Recentemente com a cantora pernambucana Ceci Medeiros realizamos o espetáculo  “Boleros” no Rio de Janeiro.
Meus estudos de música cubana, uruguaia e argentina me permitem realizar work-shops e palestras no Brasil e alimentar o meu repertorio de ideias na hora de interagir com músicos de jazz no meus shows no Rio.

5) O Tango.

Também desde criança que escuto tangos, teve alguns projetos na argentina toquei sempre tango mais interrompi durante anos para me dedicar a conhecer a música brasileira.
Desde uns anos atrás comecei a incorporar músicas de Piazzolla no repertorio do duo com a Odette (os “estudos tanguisticos- para flauta solo)
Até que em  2010 criei o projeto “Tango Negro”
O projeto mistura  ritmos brasileiros e ritmos do tango e fundamentalmente dedica seu repertorio ao Astor Piazzolla.
Te mais 4 formações importantes nestes últimos anos.
Tocando com o contrabaixista Pablo Aslan no Rio, tocando com Daniel Binelli e Juan Pablo Navarro em Buenos Aires, com Tibor Fittel no Festival Internacional do CCBB em 2013 e no centenário de Troilo  interpretando a Suite Troilenana.

6) Música autoral 

Desde 1985 compondo, primeiro de forma intuitiva e a  partir do ano 2000 de forma mais consciente da harmonia , da escrita .
São mais de 200 em total, que refletem justamente toda esta multiplicidade de culturas que hoje estou comentando.
Como influencias Tom Jobim, Piazzolla, o Jazz algumas delas foram gravadas num disco chamado ' Coletânea " , outras tocadas ao vivo em diferentes formações pelos palcos do Brasil e Argentina.