Apreciação musical.
Além de ser um instrumentista, compor e produzir; desenvolvo
palestras sobre diversos temas ligados com a música, um deles é a apreciação
musical.
Em estes casos o propósito é desenvolver a escuta musical,
formar ouvintes. Entendo que uma pessoa pode não chegar a ser um músico, mas
pode ampliar sua capacidade em contemplar uma música, e isso faz que ela cresça
no sentido sensível da vida e da arte.
Isso não é só saudável apenas para o amador, para um músico
também estas indicações são proveitosas no sentido que se ele quer desenvolver
uma maturidade musical não tem que só treinar, mas também ganhar uma compreensão
maior e o ato de escutar música oferece essa perspectiva. Assim como um
escritor tem que ler e conhecer bem literatura; um músico é, antes de tudo, um
ouvinte atento.
Chegou à minhas mãos um texto com reflexões sobre apreciação
musical do compositor russo Aaron Copland: “Como ouvir e entender música”. No primeiro
capítulo ele descreve três momentos que podem ajudar aos ouvintes.
No momento da escuta ele diferencia o plano sensorial, o
plano expressivo e o plano meramente musical.
Ele recorre a uma comparação com o teatro e diz que o plano
sensorial é o mais imediato, este plano estaria representado pela luz, os
atores, o cenário, etc. Depois teríamos o lado expressivo, que estaria ligado
com as sensações que recebemos: ficamos tristes, melancólicos,etc. E o terceiro
esta relacionado com a melodia que ele compara com o enredo, com a historia ou
o discurso que é narrado na peça.
Copland diz que o ouvinte tem que identificar a melodia e
que ao escutar ele tem que se posicionar dentro e fora da música, julgando-la e
desfrutando dela ao mesmo tempo.
Esta aproximação proposta por Copland é pertinente. Erroneamente escutamos que uma
pessoa teria que ter ouvido absoluto para melhorar seu conhecimento musical ou,
desde um olhar enciclopedista, nos chegam mensagens aconselhando saber mais
sobre música identificando períodos musicais, saber, por exemplo, o que é período
Barroco, Romântico, etc.
Estas sugestões do Copland são objetivas e temos que considerar-las por que poucas vezes encontramos ferramentas praticas
para aprimorar o ato da escuta. A indicação do simples fato de reconhecer uma
melodia pode nos oferecer esse começo de aprimoramento já que é uma chave orientadora valosíssima..
Agora vou propor um exercício prático: vamos ouvir a Fantasia Numero 3 para
flauta solo de Telemann interpretada por
Jean-Pierre
Rampal e aplicar estes três momentos de analise que o Copland propõe: plano sensorial, o plano
expressivo e o plano meramente musical. Em outras palavras tornar consciente as
impressões gerais, as sensações (tristeza, alegria, etc) e o reconhecimento dos
temas (das melodias), a ideia de frase.
Agora alem de identificar a melodia vamos a refletir sobre o
ritmo e as seções da música: a Fantasia tem uma parte curta e lenta no começo
identificada como “Largo” na partitura que parece indicar uma intenção
interrogativa, segue uma parte rápida que na partitura aparece com o nome de “Vivace”,
este vivace é um movimento rápido semelhante a uma chuva; tudo isso se repete,
uma parte lenta e outra viva e chega ao fim.
Depois temos outro assunto, ou tema que na partitura tem o
nome de “Allegro”. Esta melodia é completamente diferente, tem um tom mais festivo
e o ritmo nos lembra uma tarantella.
Final.
Com a audição deste exemplo e com a orientação de Copland
hoje avançamos um pouco no que seria a iniciação de uma audição aprimorada.
Abraços