terça-feira, 7 de julho de 2015

Minhas influencias musicais, um diálogo entre varias culturas.

A seguir, a ideia é mostrar alguns estilos e idéias que acompanham minha trajetória musical

       1 )    O jazz e a música instrumental. 2 )    A música clássica e contemporânea.   3)     A música brasileira e o diálogo com a música argentina. 4)    A música latina.  5)     O tango. 6)     A música autoral.


O jazz.

Minha relação com o jazz é antiga, escutei desde pequeno big bands no radio da Argentina, ao longo dos anos fui tendo encontros com discos ou artistas que me mostraram coisas que realmente me impressionaram...posso  comentar o encontro com a música “take Five “ como algo que rompe com o que eu estava acostumado a entender como jazz... o grupo de Dave Bruberk, Paul Desmond (sax), Joe Morello (bateria), Eugene Wright (baixo) e o Dave Brubeck (piano)  rompem com o compasso de 4 e inclusive me colocam em contato com um tipo de jazz mais artístico.
Depois a experiência de escutar a Weather Report ao vivo  foi  realmente impressionante, eu vivia no subúrbio de Buenos Aires e não tinha acesso a uma educação musical qualificada nem contato com experiências musicais transcendentes, mais comecei a freqüentar o centro urbano de Buenos Aires e a respirar um outro ambiente, isso com 17 anos, em 1975, na época a música Birdland de Joe  Sawinul ganhou uma repercussão mundial e isso permitiu chegasse a meu ouvidos,  inclusive o grupo foi tocar na Argentina e tive a sorte de assistir ao vivo ao Jaco Pastorius no baixo, Peter Esrkine na bateria, Wayne Shorter no sax , Joe Sawinul no teclado e o Manolo Badrena na percussão.
Depois o encontro  auditivo com Chick Corea,Miles Davis, Bill Evans, Pat Metneny , Coltrane...também foram  fascinantes.
Tive varias agrupações de música popular argentina até que em 1988 viagem ao Brasil onde gravo com Sergio Nacif o primeiro disco do selo Niterói Discos onde participa Yuri Popoff e Nelson Faria.
No Brasil toquei muita música instrumental  (gravei três discos com o grupo Xekerê  entre os anos de 1990 ate o 2000) , depois formei junto com o baixista do Hermeto Pascoal a Itiberê Orquestra Família com a qual gravamos um disco duplo.
Agora tocar exclusivamente um repertorio de Jazz é algo que aconteceu nos últimos anos. Esta direção se fez mais intensiva quando escolhi  abraçar diversos projetos  no formato de tributos, isto começo com o tributo a Bill Evans, junto a Bruno Migliari e Dario Galante em 2010.
A partir dali senti que dedicar o repertorio a um artista me permitia conhecer a obra da pessoa  ao qual era dedicado o repertorio e assim também me familiarizar com a discografia e os diferentes momentos do artista escolhido.
Nesse caminho porduzi show homenageando a John Coltrane, West Montgomery, Duke Ellington, a Thelonius  Monk, Elvin Jones, Charlie Parker, Miles Davis , Horace Silver  e Billie Holiday.

A concepção do Jazz
Minha  experiência com o jazz me ensinou que existe o estilo jazz, dentro dele temos as baladas, as valsas jazz, o swing, o be bop , a misturas como o jazz latino mais o mais importante é uma postura mais livre para interpretar , uma atitude onde não tocamos o que esta escrito, remanejamos os ritmos, a harmonia de tal modo que esse comportamento o podemos aplicar a outros estilos para alimentar-los.

Esta foi a última formação do grupo Xekerê  um projeto que durou 10 anos e que rendeu três discos autorais.


2) A música Clássica.

Nos anos  70 e 80 a educação musical para quem quisesse estudar bateria era quase nula , na minha época  a  pedagogia  aplicada a percussão estava orientada pela leitura, técnica e o repertorio era  dirigido para a música clássica.
A música popular se tocava intuitivamente e se passava por transmissão oral, assim que quando estudei formalmente música, a partir dos 17 anos, tive uma educação que me orientava mais também teve contato com obras importantes como “Ionisation” de Edgard Varesse e “la tocata” de Carlos Chavez entre outras, obras que tinham uma proposta mais de composição do que de algo mais ritmico.
O desafio final venho logo, a primeira obra que toquei em uma orquestra sinfônica na minha vida, foi em Buenos Aires, era um orquestra formada por solistas de várias outras orquestras e em essa ocasião foi regida pelo maestro  Pedro Ignacio Calderon que foi  diretor titular da orquestra Sinfônica Argentina.
Quem me levou foi meu professor de percussão, o maestro Antonio Yepez, a obra era Scherezade de  Rimsky Korsakov, toquei caixa e  a caixa dessa obra é considerada uma das mais difíceis do repertorio sinfônico.
Essa obra ficou marcada ao ponto de eu retomar ela e inclusive recentemente gravamos um dos movimentos num arranjo para piano e bateria com o pianista Tibor Fittel .
Em 1999 conheci a Odette Ernest  Dias e com ela decidimos  formar um duo de flauta e bateria, esse duo durou 10 anos e com ela tocamos  as Fantasias de Telemann, a Suite em Si menor de Bach, obras de compositores como Jolivet e inclusive outras compostas especialmente para o duo de caráter mais contemporâneo.
Outra experiência que gosto de fazer é a de misturar o comportamento popular e clássico....para isso formei uma banda chamada Jazz in Câmara  com a qual tocamos músicas brasileiras populares ou não mais com uma atitude de conciliação dos dois conceitos.
O grupo era formado por Ana de Olveira (violino), Tony Botelho ( contrabaixo), Tomás Improta (piano) e eu na bateria...

Anos atrás (2011) formamos um projeto interessante com a Heloisa  Fischer ( produtora do Viva música) , Edu Krieger, Marcelo Caldi e Carlos Prazeres...se formou uma pequena orquestra de uns 15 músicos com repertorio de música clássica em  tom carnavalesco chamada Feitiço do Vila.
Aqui a foto...
Atualmente estou realizando um novo dua dedicado agora á música clássica brasileira: Radamés Ganatallli, Cláudio Santoro, se trata de um duo de piano e bateria junto com Fernanda Canaud.



3) A música brasileira

Minha experiência auditiva com a música brasileira foi desde criança, Vinicius de Moraes morou em Buenos Aires nos anos 70 e assim conheci a Bossa Nova, Tom Jobim, Chico Buarque e mais tarde Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, os diferentes ritmos , os estilos.
Minha viagem a Brasil foi inclusive provocada porque minha vivencia em Buenos Aires naquela época o músico popular era valorizado pelo seu virtuosismo e a relação com a música clássica me parecia artificial por um excesso de quantificação na relação entre a escrita e a interpretação.
Eu tinha tido uma experiência com a metodologia da Berklee  e tinha rechaçado ela por que apontava basicamente a  uma serie de exercícios técnicos de aprimoramento mais eu precisava ainda desenvolver a musicalidade.
Como turista  conheci o Rio e  nesse contato olhava a relação dos músicos de chorinho ou de Samba com a música e pensei que em contato com essa experiência poderia  crescer artisticamente.
De modo paralelo tinha assistido a um show de Hermeto Pascoal no teatro em Buenos Aires e toda aquela liberdade.
A convite do Conservatório Brasileiro de música tive a oportunidade de dar aulas formalmente e acabei me decidindo a morar no Brasil, me radiquei no Rio e na época não existia um estudo formal dos ritmos brasileiros assim que tive que fazer a experiência de assistir, observar e fazer o processo de aprendizado dentro da  conceição da tradição oral, freqüentar os lugares, conhecer as pessoas e ir naturalmente tendo uma relação orgânica com esta música.
Conheço desde a música clássica brasileira, Villa lobos, Gerra Peixe, Claudio Santoro até sambistas como Cartola, Serginho Merity (com quem teve o prazer de tocar), música instrumental, música ancestral (candomblé, jongo, bumba meu boi, Escola de Samba), Choro, maxixe, tudo.
seguindo com o diálogo entre as culturas  no começo de 2014 tocamos com Daniel Binelli , Juan Pablo Navarro, Américo Belloto e Abel Rogantini na Argentina a música “Naquele Tempo” de Pixinguinha....



Hoje em dia toco no Rio um projeto com obras de Edu Lobo e em Buenos Aires tocamos também o repertorio brasileiro com artistas locais que amam e conhecem Jobim, Gismonti, Hermeto,etc.

No final de 2014 realizamos um show  no Café Vinilo no bairro de Palermo na capital  da Argentina.
Os músicos são Abel Rogantini no piano, Américo Belloto no trompete e Diego Waigner no contrabaixo .
Dentro de este tema que é a música brasileira tem um espaço muito importante para mim o que chamo de "música ancestral", 
Estudei ritmos usados nas cerimonias do Candomblé e toquei estes ritmos junto a pessoas como Nei de Oxosse e seu pai seu Erenilton formamos um grupo de música dedicado ao Afoxê chamado filhos de Korim Efã, estudei e escrevi artigos exaltando toda esta cultura e hoje reconheço a importância de toda esta riqueza presente na música brasilieita, latina e no jazz.

4) A Música Latina.

Conheço a música latina também desde criança e o fato de ter certo sotaque me ajudou no Brasil para ter um ponto de diferenciação com os músicos locais.
Tive vários projetos nos quais inclui música cubana  tradicional, Salsa e Latin Jazz.
Durante quatro anos teve uma pequena orquestra de 9 músicos tocando música latina na Lapa que se chamou Rio-Latin-Jazz.
Aqui um vídeo de um show ao vivo no Circo Voador.
Outro projeto que tive importante foi o Latin-Jazz –Ensemble junto a Paulo Russo, Marcelo Martins, Arimateia entre outros.
Com este grupo tocamos no Festival internacional de Embrach na Suíça.
Recentemente com a cantora pernambucana Ceci Medeiros realizamos o espetáculo  “Boleros” no Rio de Janeiro.
Meus estudos de música cubana, uruguaia e argentina me permitem realizar work-shops e palestras no Brasil e alimentar o meu repertorio de ideias na hora de interagir com músicos de jazz no meus shows no Rio.

5) O Tango.

Também desde criança que escuto tangos, teve alguns projetos na argentina toquei sempre tango mais interrompi durante anos para me dedicar a conhecer a música brasileira.
Desde uns anos atrás comecei a incorporar músicas de Piazzolla no repertorio do duo com a Odette (os “estudos tanguisticos- para flauta solo)
Até que em  2010 criei o projeto “Tango Negro”
O projeto mistura  ritmos brasileiros e ritmos do tango e fundamentalmente dedica seu repertorio ao Astor Piazzolla.
Te mais 4 formações importantes nestes últimos anos.
Tocando com o contrabaixista Pablo Aslan no Rio, tocando com Daniel Binelli e Juan Pablo Navarro em Buenos Aires, com Tibor Fittel no Festival Internacional do CCBB em 2013 e no centenário de Troilo  interpretando a Suite Troilenana.

6) Música autoral 

Desde 1985 compondo, primeiro de forma intuitiva e a  partir do ano 2000 de forma mais consciente da harmonia , da escrita .
São mais de 200 em total, que refletem justamente toda esta multiplicidade de culturas que hoje estou comentando.
Como influencias Tom Jobim, Piazzolla, o Jazz algumas delas foram gravadas num disco chamado ' Coletânea " , outras tocadas ao vivo em diferentes formações pelos palcos do Brasil e Argentina.




domingo, 5 de julho de 2015

A Bateria no Tango

A bateria no Tango

No percurso da historia a bateria foi muitas vezes preterida pelo preconceito generalizado que se tem pelo instrumento. No Tango a coisa não foi diferente.
Como diz o meu amigo Jose Vicente Boesmi  ( dono de um dos maiores acervos de fotos e gravações de Piazzolla), “um amante do Tango tradicional não  aceita nem uma virgula  de transformação no roteiro ritual do Tango, mas, para o bem da música, aos poucos o público vai mudando e, assim, o tango pôde abrigar novos timbres,  trazidos pela bateria por exemplo, e deste modo conviver com o novo”.

Os protagonistas.

Se quisermos lembrar alguns bateristas famosos não podemos deixar de citar a Jose “Pepe” Corriale, que tocou com Francisco Canaro nos anos 30, e anos mais tarde com Osvlado Fresedo, Julio de Caro, Carlos García e Libertéla e Lucas Demare. Mariano Mores, que foi o primeiro baterista de Astor Piazzolla. Temos que lembrar também de Enrique “Zurdo “ Roisner (tocou com Dino Saluzzi,Leopoldo Federico, mas se consagrou como o batera histórico de Piazzolla),e ainda de Norberto Minichilo, com seu trio “Terceto”,  e, dos atuais, de  Jose Luis Colzani ,que tocou com Manolo Juarez, Jose Colangelo  a Luis Cerábolo  (este gravou com Piazzolla e seu grupo eletrônico em 1977), de Lucas Canel, que toca em trio com Mario Parmisano, de Quitino Cinalli, que toca com Saluzzi  e de “Pipi”Piazzolla (neto do  Piazzolla), este líder do grupo “Scalandrum” e batera do disco de Pablo Aslan , “Piazzolla em Brooklin”, um disco indiscutivelmente importante na nova perspectiva do estilo.




           Sobre o lugar da bateria.



É importante destacar, comenta meu parceiro Juan Pablo Navarro (para mim, um dos maiores contrabaixistas de tango da atualidade) que a bateria no Tango não é um instrumento que possa ter uma performance mais de liderança como acontece no jazz ou na música latina , aqui se subordina ao piano e ao baixo atuando como um complemento. Podemos dizer, continua Pablo, que a bateria é tratada mais como percussão, como algo flexível e que nunca se deve impor ao baixo e ao piano, é mais algo de contraponto que de protagonista. (Na foto Jose Corriale)



Os ritmos que fazem parte do Tango.


Falando estritamente dos ritmos internos do tango, podemos enumerar 1) a milonga (habanera e a milonga surenha ); 2)o tango candombe; 3)  o tango propriamente dito; 4) a valsa (mais intimista e mais rápida) e 5) o estilo Piazzolla.
(Na foto Pipi Piazzolla que representa a atualidade na bateria no Tango).
Vamos a continuar com este tema incluindo gravações e exemplos escritos para ampliar o artigo e dar realmente um contexto com o qual se possa compreender melhor a multiplicidade de variantes que envolve o tema.
Abraços para todos.