O Orixá do Tambor.
Existem divindades que representam a magia que vive nos músicos,
que tocam
instrumentos de percussão e no próprio tambor. Nos mitos sagrados mais
antigos, e no Candomblé encontramos uma historia muito enriquecedora
e pouco conhecida que narra esta lenda. Trata-se do Orixá do Tambor.
instrumentos de percussão e no próprio tambor. Nos mitos sagrados mais
antigos, e no Candomblé encontramos uma historia muito enriquecedora
e pouco conhecida que narra esta lenda. Trata-se do Orixá do Tambor.
É fascinante observar como no rito o instrumento é
considerado sagrado,
como o som é considerado um meio de comunicação com força
transcendentes e como os instrumentistas (Ogan) têm essa missão de
permitir que o Orixá da música (Ayon) se expresse, sem que isto envolva
nenhuma vaidade pessoal.
como o som é considerado um meio de comunicação com força
transcendentes e como os instrumentistas (Ogan) têm essa missão de
permitir que o Orixá da música (Ayon) se expresse, sem que isto envolva
nenhuma vaidade pessoal.
Longe deste comportamento, os músicos hoje perderam a relação
com
o sagrado, com seu próprio instrumento, com seu lugar na arte e se
importam mais com sua ostentação pessoal que em evocar os Deuses do som.
o sagrado, com seu próprio instrumento, com seu lugar na arte e se
importam mais com sua ostentação pessoal que em evocar os Deuses do som.
A narração ancestral mostrada mais a frente, está em perfeita
harmonia
com o que o saxofonista John Coltrane entende por música e evoca em
composições como LOVE SUPREME.
com o que o saxofonista John Coltrane entende por música e evoca em
composições como LOVE SUPREME.
Ayon o Orixá da música. -1
O tambor é
considerado sagrado é tratado como uma criatura vivente, que deve ter cuidados
específicos e uma variedade de regras para o seu uso.
A força
espiritual contida no tambor, que o consagra, é chamada
de ”Ayan” ou ”Ayon", o Orixá do tambor. Para que alguém
possa ser iniciado em Ayon e tocar o tambor, deve cumprir rígidos rituais
religiosos.
No Brasil esta tradição praticamente se perdeu, mas foi
mantida na Nigéria e Benin (a Terra Yorubá) e em Cuba.
O
iniciado recebe a força espiritual necessária para tocar os tambores de forma
correta, para que estes possam "falar" com os Orixás, chamando-os para
as cerimônias a eles dedicadas. Ayon representa a expressão sonora das
Divindades; ele é a alegoria do tambor que serve como depositário dos poderes
Divinos , e como veículo que lhe dá a voz.
A
consagração de Ayon no tambor Batá é feita por meio de ritual e elementos
litúrgicos sagrados, que ficam dentro do tambor, que é selado hermeticamente
com as duas peles. Quando Ayon é assentado no tambor este é chamado
de "Eleekoto". O ritual de consagração inclui pintura do
tambor com a assinatura de Xango.
Eleekoto é
simbolizado por uma miniatura de tambor que não pode ser tocado, pois simboliza
"Ayon".
A lenda.
Diz uma
lenda da divindade Ayan/Ayon, que Olódùmarè (o Deus Supremo) o
chama para aprender o poder de cada Orixá, para ensinar os homens a louvá-los
através do canto, da dança e dos ritmos sagrados. Na verdade o próprio
instrumento - o tambor - é considerado como a veste material de um espírito e
dizem os mitos, que cada tambor possui seu espírito elementar, que se
materializa dentro dos mesmos durante as cerimônias para que o rito tenha
prosseguimento segundo a forma do pensamento do templo em questão, de acordo
com o Orixá regente da casa.
Algumas narrativas sobre Ayon.-2
Aiyon era o mais forte de todos os seres e ninguém o igualava. Certa vez
Lorundi lhe disse que Irõko (arvore ancestral - 3) era mais forte do que ele. Sem
pensar, Ayon, foi até Irõko e o arrancou com apenas uma mão e o povo disse que Aiyon
era mais forte.
Após desmiolar o tronco de Iröko, ele o cobriu com um couro e fez um
aketé. E um dia, ao chover, o couro ficou mole e ele pôs o
atabaque em pé ao sol e ficou retumbando, (assim, ele inventou o atabaque).
Ayon começou a tocar para o povo dançar, em muitas cidades onde recebia
dinheiro aos seus pés. Um dia, certa mulher quis tocar, mas ele não queria
ensinar; em determinado momento ele foi para a mata com ela e quando ele dormiu
ela tocou o atabaque.
Ao acordar, Ayon
jogou a mulher longe e com isso o atabaque não ficou bom mais. Ao irem a um sacerdote,
ele ficou sabendo que a mulher "tava fraca" de Bajé (menstruada), assim
ele teve que fazer uma oferenda para o atabaque para que ele ficasse bom novamente.
Daí o motivo da mulher não tocar atabaque no Candomblé.
De todo modo,
sabemos que no culto Ijexá é comum as mulheres tocarem para Logunede por causa
de um encantamento. -4
Mais
narrativas sobre Ayon.-5
Ayon é a potestade que encerra alguns dos
maiores mistérios da profunda iniciação, pois está ligado a praticamente todo o
sistema de equilíbrio das divindades, estando presente no começo e no fim do
mundo, atuando na ritualística de todos os Orixás.
É o espírito da Música e segundo os mitos antigos; morava
dentro do tambor no princípio dos tempos.
Ayon é a entidade que ensinou os homens a falar, a cantar e a
preservar e viver a música como fonte de equilíbrio e estabilidade.
Um tambor bem preparado é um verdadeiro ser vivo, e quase
sempre o espírito de Ayon, quando se manifesta nele, induz o Alabê (Ogan- músico)
a executar ritmos extremamente hipnóticos e complexos, pois os tambores chegam
a “falar” sozinhos.
O preparo de um tambor para Ayon requer muitos cuidados
dentro da magia, pois desde a construção até a preparação são utilizados
diversos materiais para a consagração, que vão do azeite ao mel, elementos de
alguns peixes e resinas de árvores, etc. Um especial cuidado com as tiras que
prendem o couro, com elementos diferenciados e polêmicos é indispensável.
Considerações finais.
Os músicos são na realidade instrumentos
que permitem que os tambores cantem e atinjam uma transcendência. A beleza
desta relação se perdeu, assim como se perdeu o sentido sagrado da música. Talvez, este mito de Ayon nos permita retomar
o elo perdido com a nossa missão.
Notas.
1-Blog Candomblé é para todos.
2-Blog do Babaloorisa Carlos
Jose.
3-Iroko é um Orixá muito
antigo. Iroko foi à primeira árvore plantada e pela qual todos os restantes
Orixás desceram à Terra. Iroko é a própria representação da dimensão Tempo.
Iroko é o comandante de todas as árvores sagradas, o vanguardeiro, os demais Osa
Iggi devem-lhe obediência porque só ele é Iggi Olórun, a árvore do Senhor do
Céu. (fonte- Blog Candomblé o mundo dos Orixás).
4-Segundo o pai de Santo Gustavo Ferreira.
5-Do blog Ilê Axé Casa dos ventos.
VIDEOS.
Aqui um vídeo muito ilustrativo para quem queira escutar a sonoridade dos batas cubanos.
VIDEOS.
Aqui um vídeo muito ilustrativo para quem queira escutar a sonoridade dos batas cubanos.
https://youtu.be/MrJQhgJyMS8