Historias do Samba.
Chegou até minhas mãos um belo livro que narra a historia da
Escola de Samba ”Deixa Malhar” e de seu fundador Mano Elói. O livro se chama: “Escola
de Samba Deixa Malhar”, seu autor é o historiador Sormani da Silva.
A historia se inicia quando o pesquisador conhece ao
compositor Rubem da Vila e este o introduz na existência da Escola de Samba
”Deixa Malhar”, a partir do encontro se abre todo um universo que evidencia,
entre outras coisas, como o Samba se torna “música nacional”, como nascem às
primeiras Escolas de Samba nos anos 30 como formas de socialização do movimento
negro, como líderes destas organizações conviveram com as religiões de origem
africana, com experiências sindicais e com a historia das ocupações das favelas
cariocas.
Lendo o livro sabemos
como a polícia fecha a “Deixa Malhar” uma década depois de sua criação o que
implica um ataque ao movimento musical-social- político-religioso na época do
Estado Novo, e como se estabelecem os pólos do Samba no Porto, na Tijuca, na
Mangueira e em Madureira.
Os personagens.
Elói Antero Dias o Mano Elói nascido em 1888 no Vale da
Paraíba, foi o primeiro cidadão do Samba, uma síntese do homem negro atuante,
militante capaz de liderar todo um movimento histórico. Ele tinha a musicalidade
ancestral do Candomblé, do Jongo e da Capoeira, era um operário engajado na
luta política- social, ao mesmo tempo sambista;
em fim um protagonista central da historia da cultura de Rio de Janeiro.
Aqui duas gravações de 1930 onde podemos apreciar sua
musicalidade.
O Nome da Escola.
“Deixa Malhar” evoca dois sentidos: a Malha era um jogo
popular na época no qual, basicamente, se disputa a pontaria com ferraduras ou
discos de metal apontando para um pino , ganha quem o derruba ou quem mais se aproxima
do alvo; também o significado aponta para zombar, no caso seria similar a dizer:
deixa que falem.
A criação e o fechamento da “Deixa Malhar”.
A Escola de Samba tinha o subtítulo de “Batuques e outras
Sociabilidades”, sua sede ficou na Chácara do Vintém (hoje Tijuca) e sua
existência durou entre 1934 e 1947 embora seu fechamento oficial ocorresse em
1943.
A criação do espaço em torno dos quais se organizara esta e
outras Escolas de Samba foram ambientes de socialização das comunidades negras.
Foram também, na realidade, desdobramentos das organizações das religiões
africanas que serviram para fortalecer a vida comunitária no sentido da defesa
e da consciência de classe.
A música.
Os sambistas eram habitualmente constrangidos e suas casas
eram ameaçadas, o Samba era e um lazer, mas também uma arma e uma ferramenta de
luta.
A idéia era reunir os amigos a partir da música, as
agremiações tinham basicamente os compositores, a bateria formada por
instrumentos de percussão (surdos, tamborins, cuícas e pandeiros) e o canto (na
época não existia a figura do puxador, as estrofes eram cantadas de forma
coletiva e o coro formado pelas pastoras cantava o refrão).
A época musical.
Brasil em 1937, com Getulio Vargas como presidente, fez um
movimento de afirmação da identidade brasileira escolhendo o Samba como música
nacional, esta escolha deu ao estilo uma visibilidade maior e serviu para sua
estratégia de aliar sua figura com as manifestações populares.
O fato do Samba ser escolhido se bem deu legitimidade aos
sambistas, não necessariamente fortaleceu as manifestações mais ligadas com sua
raiz negra.
Isto normalmente ocorre quando as instituições se apoderam
da arte, elas excluem as manifestações das comunidades e moldam os estilos ao
gosto da indústria; deste modo a imagem do Brasil ficou atrelada com a imagem
da Carmen Miranda, do Zé carioca da Disney e a composições como Aquarela do
Brasil de Ary Barroso.
O Samba de Roda e os estilos populares que eram ouvidos na
casa da tia Ciata, os Jongos tocados na Serrinha ou no barracão da “Deixa
Malhar” não tiveram espaço por que a elite não queria um Brasil identificado
com a negritude e sim com os “avanços urbanos”.
Aqui duas gravações que mostram o contraste
Samba de Roda https://youtu.be/FEjjt-felmg
Mais discussões musicais.
Um dos capítulos mais interessantes do livro acontece quando
toca no tema: ”Cultura negra e identidade nacional”.
Com Getulio Vargas o Samba ganhou legitimidade, esta
unificação nacional em torno do Samba recebeu críticas de modernistas como
Mario de Andrade que entendiam que esta escolha valorizava apenas uma das variantes
musicais do Brasil.
De todos modos a idéia de valorizar um ritmo de origem negra provocaria uma mudança conceptual e a partir desta transformação teríamos a possibilidade de uma mestiçagem cultural, uma síntese antropofágica.
A postura de um homem branco no papel de civilizador do homem do morro, seria substituída pela idéia do homem erudito interpretar ,com muito respeito, o ser nacional do homem popular.
A resistência a considerar o popular como símbolo nacional não enxergava o valor das baianas ou do samba; na contramão o conceito de "síntese" teve acolhida em músicos como Villa Lobos e Radamés Gnatalli que reuniram o melhor do folclore brasileiro ao mundo da música clássica européia para, por meio a este diálogo, criar a identidade nacional.
De todos modos a idéia de valorizar um ritmo de origem negra provocaria uma mudança conceptual e a partir desta transformação teríamos a possibilidade de uma mestiçagem cultural, uma síntese antropofágica.
A postura de um homem branco no papel de civilizador do homem do morro, seria substituída pela idéia do homem erudito interpretar ,com muito respeito, o ser nacional do homem popular.
A resistência a considerar o popular como símbolo nacional não enxergava o valor das baianas ou do samba; na contramão o conceito de "síntese" teve acolhida em músicos como Villa Lobos e Radamés Gnatalli que reuniram o melhor do folclore brasileiro ao mundo da música clássica européia para, por meio a este diálogo, criar a identidade nacional.
O movimento.
A época era rica em musicalidade, se
ouviam Jongos com Mano Elói , Maxixes com Sinhô e Sambas com Noel Rosa, Wilson Batista, Lamartine Babo,
Ary Barroso e muitos mais.
Aqui gravações ilustrativas.
Jongo
Wilson Batista
O Samba Madalena se zangou
O racismo e o anticomunismo.
As escolas de Samba pelo seu caráter
anárquico e independente junto às agremiações ligadas ao partido comunista
sofreram perseguições e repressão.
O fechamento da sede da “Deixa Falar”
foi um golpe no movimento negro e significou uma estratégia de controle social.
FINAL
Recomendamos este livro para todo o
mundo que ama a historia musical brasileira, terminamos nossa resenha com a
frase do NASCIMENTO: “O tambor é fonte de ritmo cósmico, exerce a função de harmonizar
as coisas: Deuses”.