domingo, 18 de setembro de 2016

O papel da Arte.


Arte e revolução.

A questão que envolve a relação entre arte e política tem vários lados, diferentes abordagens, por exemplo, existe uma arte revolucionaria no sentido de que esta , em um momento da historia, muda os padrões estéticos, uma perspectiva nova que realmente produz uma virada de pagina. Isto ocorreu na música, por exemplo, nos anos 40/50 com o Be bop nos EE.UU , com Tom Jobim no Brasil e Astor Piazzolla na Argentina.
A primeira perspectiva seria então considerar o significado revolucionário na dimensão de algo que estivesse mudando a historia da arte, esclarecendo que esta ruptura nunca seria entendida como inaugural, mas como recriação de uma tradição.
Ainda temos dois outros significados, quando falamos de arte e revolução; teríamos o tema das lutas pelos direitos autorais, pela organização sindical, em fim, pelas conquistas materiais, entendendo aqui ao artista como um trabalhador inclusive incorporado o tema da sua ideologia de sua toma de partido.
Estamos considerando agora então, não a obra, mas a vida do artista ativista como um ato revolucionário, podemos citar muitos artistas engajados em lutas políticas: é o caso de Osvaldo Pugliese na Argentina ou Claudio Santoro no Brasil.
Em terceiro lugar o sentido do revolucionário estaria ligado a uma estética da arte. Esta estética discutiria se a arte, na sua temática, deveria expressar conteúdos engajados, didáticos que poderiam desenvolver ou inspirar ações revolucionarias empíricas nos espectadores ou se o sentido de liberdade na arte estaria evidenciando seu conceito revolucionário sem necessidade de servir a outros propósitos que não sejam os artísticos em si mesmos.
Este artigo se propõe se debruçar sobre esta ultima questão, a arte seria revolucionaria quando ela esta expressando ideais políticos ou a arte livre de qualquer intencionalidade seria uma arte verdadeira e transformadora?

A questão da excelência.

Muitas respostas aparecem no ar, à primeira em uma ordem que envolve questões de jerarquia e de evidencia entendemos que seja a qualidade, a excelência da obra um primeiro ponto visível que nos serve como parâmetro orientador para fazer uma apreciação.
Então privilegiamos uma obra desde o ponto de vista estético, avaliamos os méritos artísticos primeiro independente de que exista ou não um discurso político.
Desdobramos aqui uma segunda questão ligada com a percepção que tem que ser considerada, isto por que alem de mais nada, existem formas de arte como a música instrumental, a dança e as artes plásticas onde o propósito artístico aparece em um estado puro; de outro lado nas canções com letras, na literatura, na ópera, no teatro e no cinema o plano da significação introduz outro nível de apreciação.
Introduzido a problemática das artes mistas, afirmamos que de todos modos, nas formas artísticas onde existe um discurso explicito estas manifestações também são avaliadas na sua importância artística independente do seu discurso ideológico.
A questão de privilegiar um enfoque só.
Vamos observar agora casos nos quais se privilegia apenas conteúdos que sejam de fundo político e como esta postura podem se materializar em poder no que ele tem de controlador e discriminatório. 

Arte livre.

Na tradição da esquerda internacional, no stalinismo e no trotskismo encontramos duas posturas diferenciadas.
A primeira se inclinaria por uma arte ao serviço de um conteúdo de denuncia da exploração, de registro das lutas e a segunda entenderia que a arte teria que ser livre de qualquer finalidade ou mensagem político.
O principio essencial para Trotsky seria que a arte não seja um meio e sim um fim em si mesmo, o realismo socialista, defendido pelo Stalin, ao contrario defenderia a postura de que a arte teria que ter um engajamento político.
 Trotsky diz que a autêntica criação artística não pode ser subordinada a nenhuma “exterioridade” política ou de qualquer natureza. Isso é o propriamente “revolucionário” da arte, e não sua temática ou seus conteúdos intencionais.
Mas a “liberdade” de Trotsky no que diz respeito à criação artística não implica em modo algum em nenhum tipo de neutralidade de valor ou indiferença ética. Trotsky dá essa autonomia da “autêntica criação artística” um papel positivamente libertário.
Em uma carta de Trotsky a André Bretón, expoente do movimento surrealista, citada por Eduardo Grüner em seu prólogo à obra O encontro de Breton e Trotsky no México, Trotsky se refere a este tema desta maneira: “Na arte, o homem expressa sua necessidade de harmonia e de uma existência plena que a sociedade classista nega”.
Ao mesmo tempo ele não nega o valor de uma arte engajada; Trotsky no capitulo V de literatura e revolução afirma que: “Durante a revolução, a literatura (a arte) que afirma aos operários na sua luta contra os exploradores é necessária progressista”.

O capitalismo em relação à arte.

Corretamente o marxismo entende que o capitalismo enxerga todo desde seu ponto de vista predador, ele se relaciona com a arte, a educação, com a religião, com as relações humanas visando apenas sua possibilidade lucrativa, assim o artista no capitalismo teria sua obra transformada em mercadoria refém das leis do mercado.
O marxismo critica também a estética desenvolvida no capitalismo como uma arte evasiva, complacente que de modo subliminal exerce um elogio do estereótipo da sociedade dominante modelando a consciência, produzindo subjetividade e domínio ideológico. Ainda ele denuncia: "O capitalismo é hostil a certas ramas da produção intelectual, como a arte e a poesia" (Marx ,Teorias sobre a mais-valia).
Para Marx o embotamento da sensibilidade ou sua apertura tem sua historia e sua genealogia, a alienação implica a expropriação das próprias forças produtivas e entre elas se encontra a capacidade artística, faculdade revolucionaria por excelência. (Marx, Manuscritos de 1844. Primeiro  Manuscrito: O trabalho alienado).

O papel da arte.

A arte não é entretenimento, evasão ou apenas um fenômeno que nos permite prazer estético.
Fora do nosso dia a dia, das diferentes manifestações artísticas com as que nos deparamos no  cotidiano, quando nos detemos a escutar um concerto de Bill Evans e apreciamos seu lirismo, um filme de Monicheli e contemplamos sua excelência , um conto de Dostoievski e mergulhamos nos subsolos da alma humana, nossa percepção é levada para sentimentos e sensações que superam o que consideramos  soberbo (o belo) no campo material e nos coloca em contato com emoções que pertencem a planos fora do que admiramos com os sentidos (o sublime, a transcendência).
Poder contemplar as virtudes de uma tragédia de Ésquilo, a liberdade e a entrega da interpretação do piano de Keith Jarret  ou as cores impactantes de um quadro de Mattise, nos permite  desenvolver capacidades que nos abre visões no campo da sensações e no plano da imaginação, do arrebatador.
Ampliar parâmetros de apreciação artística nos coloca fora de uma indigência humana e nos permite avançar tanto no descobrimento de virtudes de ordem técnico (aprender a avaliar o grau de sofisticação de um ator, de um roteiro, da iluminação de um filme, por exemplo) como de exercer nossa sensibilidade no sentido de provocar emoções comoventes, geralmente diluídas em manifestações artísticas menores que se nos apresenta no dia a dia da nossa vida cotidiana.

Fim.

A pratica artística, a apreciação abre as janelas da criatividade e de experiências que  fazem transcender ao homem em um universo poético , livre que o realiza e o enriquece .