Arte e revolução.
A questão que envolve a relação entre arte e política tem
vários lados, diferentes abordagens, por exemplo, existe uma arte
revolucionaria no sentido de que esta , em um momento da historia, muda os
padrões estéticos, uma perspectiva nova que realmente produz uma virada de
pagina. Isto ocorreu na música, por exemplo, nos anos 40/50 com o Be bop nos
EE.UU , com Tom Jobim no Brasil e Astor Piazzolla na Argentina.
A primeira
perspectiva seria então considerar o significado revolucionário na dimensão de
algo que estivesse mudando a historia da arte, esclarecendo que esta ruptura
nunca seria entendida como inaugural, mas como recriação de uma tradição.
Ainda temos dois
outros significados, quando falamos de arte e revolução; teríamos o tema das
lutas pelos direitos autorais, pela organização sindical, em fim, pelas
conquistas materiais, entendendo aqui ao artista como um trabalhador inclusive incorporado o
tema da sua ideologia de sua toma de partido.
Estamos
considerando agora então, não a obra, mas a vida do artista ativista como um
ato revolucionário, podemos citar muitos artistas engajados em lutas políticas:
é o caso de Osvaldo Pugliese na Argentina ou Claudio Santoro no Brasil.
Em terceiro lugar o sentido do revolucionário estaria ligado
a uma estética da arte. Esta estética discutiria se a arte, na sua temática, deveria
expressar conteúdos engajados, didáticos que poderiam desenvolver ou inspirar
ações revolucionarias empíricas nos espectadores ou se o sentido de liberdade
na arte estaria evidenciando seu conceito revolucionário sem necessidade de
servir a outros propósitos que não sejam os artísticos em si mesmos.
Este artigo se propõe se debruçar sobre esta ultima questão,
a arte seria revolucionaria quando ela esta expressando ideais políticos ou a
arte livre de qualquer intencionalidade seria uma arte verdadeira e
transformadora?
A questão da excelência.
Muitas respostas aparecem no ar, à primeira em uma ordem que
envolve questões de jerarquia e de evidencia entendemos que seja a qualidade, a
excelência da obra um primeiro ponto visível que nos serve como parâmetro
orientador para fazer uma apreciação.
Então
privilegiamos uma obra desde o ponto de vista estético, avaliamos os méritos
artísticos primeiro independente de que exista ou não um discurso político.
Desdobramos aqui uma segunda questão ligada com a percepção
que tem que ser considerada, isto por que alem de mais nada, existem formas de
arte como a música instrumental, a dança e as artes plásticas onde o propósito
artístico aparece em um estado puro; de outro lado nas canções com letras, na
literatura, na ópera, no teatro e no cinema o plano da significação introduz outro
nível de apreciação.
Introduzido a problemática das artes mistas, afirmamos que de
todos modos, nas formas artísticas onde existe um discurso explicito estas
manifestações também são avaliadas na sua importância artística independente do
seu discurso ideológico.
A
questão de privilegiar um enfoque só.
Vamos
observar agora casos nos quais se privilegia apenas conteúdos que sejam de
fundo político e como esta postura podem se materializar em poder no que ele
tem de controlador e discriminatório.
Arte livre.
Na tradição da
esquerda internacional, no stalinismo e no trotskismo encontramos duas posturas
diferenciadas.
A primeira se
inclinaria por uma arte ao serviço de um conteúdo de denuncia da exploração, de
registro das lutas e a segunda entenderia que a arte teria que ser livre de
qualquer finalidade ou mensagem político.
O principio
essencial para Trotsky seria que a arte não seja um meio e sim um fim em si
mesmo, o realismo socialista, defendido pelo Stalin, ao contrario defenderia a
postura de que a arte teria que ter um engajamento político.
Trotsky diz que a autêntica criação artística
não pode ser subordinada a nenhuma “exterioridade” política ou de qualquer
natureza. Isso é o propriamente “revolucionário” da arte, e não sua temática ou
seus conteúdos intencionais.
Mas a “liberdade”
de Trotsky no que diz respeito à criação artística não implica em modo algum em
nenhum tipo de neutralidade de valor ou indiferença ética. Trotsky dá essa autonomia da
“autêntica criação artística” um papel positivamente libertário.
Em uma carta de
Trotsky a André Bretón, expoente do movimento surrealista, citada por Eduardo
Grüner em seu prólogo à obra O
encontro de Breton e Trotsky no México, Trotsky se refere a este tema desta
maneira: “Na arte, o homem expressa sua necessidade de harmonia e de uma
existência plena que a sociedade classista nega”.
Ao mesmo tempo ele não nega o
valor de uma arte engajada; Trotsky no capitulo V de literatura e revolução
afirma que: “Durante a revolução, a literatura (a arte) que afirma aos
operários na sua luta contra os exploradores é necessária progressista”.
O capitalismo em relação à arte.
Corretamente o marxismo entende que o capitalismo enxerga
todo desde seu ponto de vista predador, ele se relaciona com a arte, a educação,
com a religião, com as relações humanas visando apenas sua possibilidade
lucrativa, assim o artista no capitalismo teria sua obra transformada em
mercadoria refém das leis do mercado.
O marxismo critica também a estética desenvolvida no
capitalismo como uma arte evasiva, complacente que de modo subliminal exerce um
elogio do estereótipo da sociedade dominante modelando a consciência, produzindo
subjetividade e domínio ideológico. Ainda ele denuncia: "O capitalismo é
hostil a certas ramas da produção intelectual, como a arte e a poesia"
(Marx ,Teorias sobre a mais-valia).
Para Marx o embotamento da sensibilidade ou sua apertura tem
sua historia e sua genealogia, a alienação implica a expropriação das próprias
forças produtivas e entre elas se encontra a capacidade artística, faculdade
revolucionaria por excelência. (Marx, Manuscritos de 1844. Primeiro Manuscrito: O trabalho alienado).
O papel da arte.
A arte não é entretenimento, evasão ou apenas um fenômeno
que nos permite prazer estético.
Fora do nosso dia a dia, das diferentes manifestações
artísticas com as que nos deparamos no cotidiano, quando nos detemos a escutar um
concerto de Bill Evans e apreciamos seu lirismo, um filme de Monicheli e
contemplamos sua excelência , um conto de Dostoievski e mergulhamos nos
subsolos da alma humana, nossa percepção é levada para sentimentos e sensações
que superam o que consideramos soberbo
(o belo) no campo material e nos coloca em contato com emoções que pertencem a
planos fora do que admiramos com os sentidos (o sublime, a transcendência).
Poder contemplar as virtudes de uma tragédia de Ésquilo, a
liberdade e a entrega da interpretação do piano de Keith Jarret ou as cores impactantes de um quadro de
Mattise, nos permite desenvolver
capacidades que nos abre visões no campo da sensações e no plano da imaginação,
do arrebatador.
Ampliar parâmetros de apreciação artística nos coloca fora
de uma indigência humana e nos permite avançar tanto no descobrimento de
virtudes de ordem técnico (aprender a avaliar o grau de sofisticação de um
ator, de um roteiro, da iluminação de um filme, por exemplo) como de exercer
nossa sensibilidade no sentido de provocar emoções comoventes, geralmente
diluídas em manifestações artísticas menores que se nos apresenta no dia a dia
da nossa vida cotidiana.
Fim.
A pratica artística, a apreciação abre as janelas da
criatividade e de experiências que fazem
transcender ao homem em um universo poético , livre que o realiza e o enriquece
.